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saúde

Foto: divulgação

A difícil tarefa de lidar com situações que podem acontecer durante a gestação e o dever da boa relação médico / paciente

Por: Dra. Ana Carolina Ceresani, médica ginecologista 

>> Essa semana nos deparamos com a triste notícia do nascimento prematuro extremo do casal Windersson Nunes e Maria Lina e que infelizmente acabou não resistindo.

O desfecho muito delicado e que, na maioria das vezes não podemos evitar, acaba com a ilusão de um casal e uma família inteira, já que aquele tão temido primeiro trimestre já havia passado e os futuros papais entravam no segundo trimestre confiantes em uma gestação segura que iria até o nono mês. Porém muitas vezes não é isso que acontece.

Alguns fatores decorrentes do trabalho de parto prematuro assim como causas genéticas, histórico de gestações anteriores e até mesmo causas ambientais podem contribuir para esse evento em que , algumas vezes o obstetra não consegue evitar (como por exemplo causas genéticas maternas  – mães e irmãs que tiveram história de prematuridade – do casal ou do feto)

Associados ou não a fatores ambientais e/ou comportamentais, parece haver uma contribuição direta de fatores genéticos ao risco de prematuridade.

Na história ginecológica pregressa, os procedimentos cervicais, como a conização aumentam o risco de prematuridade. Anormalidades uterinas congênitas relacionadas a defeitos müllerianos, podem afetar o colo, o corpo uterino ou ambos. O risco de parto prematuro em mulheres com malformação uterina pode chegar a 25 ou até 50%, dependendo da malformação específica.

Existem também as causas modificáveis que podem ser rastreadas e prevenidas no pré-natal : infecções sistêmicas e genitais (assintomáticas ou não). Infecções do trato urinário e infecções periodontais estão relacionadas ao trabalho de parto prematuro. Por isso o pré-natal se torna tão importante dentro dos fatores modificáveis para prematuridade.

Outro fator associado ao trabalho de parto prematuro é dada pela incompetência istmo cervical, quando por algum motivo (muitas vezes infeccioso) o colo uterino fica mais curto, podendo assim entrar em trabalho mais facilmente

No momento, sugere-se que se faça a medida do colo uterino na ultrassonografia (US) de rotina do segundo trimestre de gestação (entre 20 e 24 semanas), mesmo que ainda não existam fortes evidências. É necessário que o médico especifique em seu pedido de US a solicitação da mensuração do colo por via transvaginal para que o ultrassonografista realize o exame.

Uma vez identificado o colo do útero curto , o obstetra pode promover manobras após o ultrassom morfológico, como a cerclagem : pontos realizados no colo do útero para fechá-lo e evitar sua dilatação precoce.

Apesar de todos os esforços para identificar as mulheres que terão partos prematuros, a fim de eliminar os riscos, não há, até o momento, teste ou intervenção com alta sensibilidade e eficácia.

A falta de um teste de alta sensibilidade ou de uma intervenção eficaz deve-se principalmente ao fato de que o parto pré-termo é produto de uma série de fatores, alguns deles ainda desconhecidos. Entender os riscos maternos e os testes disponíveis para predição, apesar de suas limitações e possíveis intervenções que diminuam as chances de progressão da gestação para uma prematuridade extrema, parece ser o caminho inicial que se deve seguir em busca de soluções para um problema tão complexo e com literatura controversa.

Para nós, obstetras, esse é o maior desafio. Desvendar os fatores modificáveis e evitá-los sempre que possível . Confortar o casal e a família e orientar sempre com apoio e total acolhimento.

A luta da prematuridade extrema tanto para a família como para o bebê recém nascido, que com toda dificuldade dos seus órgãos ainda imaturos para a vida fora do útero, não é só física mas sim psicológica. E devemos sempre lembrar que a vida é cíclica e passageira e que momentos melhores virão. Basta acreditar.

Deixo meu forte abraço a todos os casais que passaram por esse momento difícil e que sigam em frente. Pois onde existir a natureza sempre nascerá uma nova flor, uma nova vida e uma nova esperança.

 

Consulte, sempre, seu médico!