Essa Olimpíada certamente não será igual àquela que passou. Por conta da pandemia do coronavírus, Tóquio 2020 foi adiada e quase cancelada, mas o Japão finaliza os preparativos finais na organização, com todos os protocolos de segurança, e acelera a movimentação da vila olímpica, a pouco menos de um mês para o início do Torneio, em 23 de julho. Sonhando com a medalha olímpica, por aqui as atletas do Rio que estão entre os mais de 370 que irão a Tóquio se superaram na preparação – em meio à crise sanitária mundial – e são uma grande esperança de muitas conquistas para o Brasil
A arqueira carioca Ane Marcelle dos Santos, 27 anos, conquistou a vaga no tiro com arco ao vencer o Pan-Americano da modalidade, em Monterrey (México). A atleta estreou na Olimpíada Rio 2016, quando o Brasil foi país-sede, mas agora a vaga olímpica tem peso e responsabilidades ainda maiores. Em entrevista exclusiva à Mais Rio de Janeiro, já na França, onde disputou a Copa do Mundo de Tiro com Arco ela fala sobre a expectativa par o início dos Jogos.
“Estou muito ansiosa, coração está a mil, acelerado, faltando agora poucos dias para as Olimpíadas. Espero muito chegar lá a trazer o melhor resultado para o Brasil. Fiz o meu melhor resultado na Rio 2016 e espero melhorar esse resultado em Tóquio. A gente esta muito otimista, estou atirando muito bem e estamos também muito confiantes na equipe mista, uma modalidade nova que tem agora em Tóquio, e a nossa equipe está muito forte. Achamos que dá sim para chegar a uma final e tentar conquistar uma medalha inédita para o Brasil”, afirma.
Ane conta que, há menos de um mês para os jogos, os treinamentos ainda estão muito intensos. Nossa conversa aconteceu, dia 22 de junho, diretamente da França, um dia antes do início da Copa do Mundo. “Nesse momento estamos em Paris, participando desse torneiro para ganhar experiência, uma base para as Olimpíadas. Os melhores do mundo estão aqui. Estamos pegando essa competição como um treinamento, um evento-teste para as olimpíadas. Todos os países que estarão lá também estão aqui. O que vai acontecer em Paris, pode acontecer em Tóquio. Então estamos treinando bastante aqui para chegar às quartas de final nas Olimpíadas”.
A preparação precisou dessa turbinada, já que a pandemia foi muito prejudicial aos treinamentos. “A pandemia atrapalhou bastante. Fiquei 5 meses sem poder atirar porque o centro de treinamento onde treino fechou. Comprometeu bastante o rendimento, toda a preparação que eu estava tendo eu perdi; tive que retomar do zero. Foi muito difícil. Fiquei muito desanimada. Achei que não ia conseguir melhorar o meu psicológico, minha preparação física. Mas graças a Deus ,amenizou a pandemia e pude voltar firme com a preparação física e mental e agora estamos aí, treinando e participando de competições internacionais para ganhar bastante experiência, chegar em Tóquio e fazer bonito”, projeta a arqueira.
Vai ter ‘Baile de Favela ‘ em Tóquio
Atleta do Flamengo, Rebeca Andrade, 22 anos, ‘causou’ e bombou nas redes sociais ao abocanhar o primeiro lugar no individual geral no Pan-Americano de Ginástica, no Rio, e garantiu a vaga em Tóquio, apresentando-se ao som do funk Baile de Favela, do MC João. “É muito legal, porque a gente não vê muitas pessoas negras no esporte. Hoje em dia que está aparecendo mais. A gente pode se espelhar. Eu inspiro outras meninas, outras crianças. Isso é muito bom para o esporte. Está sendo muito legal. Abro as redes sociais, e um monte de página falando sobre minha música, sobre a minha série. É muito bom ter meu trabalho reconhecido, porque é muito esforço, muito suor, muita alegria para que tudo isso aconteça. Fico bem feliz”, declarou a ginasta.
Depois de competir nas Olimpíadas do Rio ao som de Beyoncé, a atleta começou a treinar ao som do Baile de Favela em 2018. Em 2019, mas uma lesão no joelho e passou por uma cirurgia, mas se recuperou, e muito bem. “A música foi uma surpresa do coreografo Rhony (Ferreira). Pensei: ‘Meu Deus, vou sair de Beyoncé para um funk’. Foi diferente. Hoje adoro a música, acho que combina muito comigo. Fiquei muito feliz que as pessoas gostaram também“, disse Rebeca, que nasceu em Garulhos, São Paulo, começou na modalidade com apenas quatro anos da idade e assinou com o Flamengo em 2011.
Arrastando móveis para treinar
Outra promessa de bons resultados na ginástica artística é Flávia Saraiva, 21 anos, que já está a caminho de Tóquio. No inicio da pandemia, a ginasta passou quatro meses treinando somente em casa, pelo Zoom e , nas últimas semanas tentou recuperar o tempo perdido, com treinos de sete horas diárias, seis dias por semana.
“Eu não vou mentir, sofri muito porque sou hiperativa e gosto de me movimentar. Então ficar o dia todo dentro de casa foi complicado e tive de aprender a conviver comigo. Mas acho que consegui sobreviver. Moro com meu irmão, minha mãe e meu pai e eles também tiveram de se adaptar à minha rotina. Muitas vezes ajudavam a arrastar os móveis para cá e para lá, me filmavam nos movimentos. Todo mundo participou”, contou a atleta, em entrevista.
Recentemente, Flávia também falou sobre a ansiedade de apresentar sua nova série solo em Tóquio, após cinco anos de treinos fortes que, em sua visão, também causam um grande desgaste mental. Mas agora, é relaxar e fazer o melhor. “Eu quero surpreender na apresentação’, declarou, antecipando que vai usar quatro músicas brasileiras na série.
No centro de treinamento do COB, na Barra, o número máximo de atletas em exercício ao mesmo tempo baixou de 200 para oitenta. E, para frequentar as instalações, todos precisam apresentar, semanalmente, o resultado negativo do exame de PCR, que pode ser feito na Fiocruz (Fundação Oswaldo Criz), parceira do COB para a realização dos testes nos atletas.
“Estou bem confiante de que vai dar tudo certo”
Ingrid de Oliveira, 25 anos, atleta dos saltos ornamentais, está com boas expectativas. Ela estava com uma lesão nas costas, e isso atrapalhou bastante meu treinamento, mas voltou a treinar constantemente há cerca de duas semanas. “E estou bem confiante de que vai dar tudo certo nas Olimpíadas, comigo e com todos os atletas do time Brasil”, conta a atleta carioca à Mais Rio de Janeiro.
Para ela, a parada das atividades foi boa porque teve tempo de tratar e se recuperar de uma lesão no punho. “No início de 2019, estava com edema ósseo, tinha machucado bem sério e precisava de um tempo para melhorar. Na Copa do Mundo, em Gwangju, Coreia do Sul, piorou, achei até que poderia quebrar o pulso. Voltei a fazer fisioterapia para competir em Lima e, mais adiante disputar a seletiva 2020 e me classificar para as Olimpíadas. Três semanas depois, a pandemia veio”, conta lembrando a as dificuldades, inclusive para se deslocar em transporte público. “Não podia entrar dessa forma no treino do time Brasil, lá no COB . Precisava pagar carro de aplicativo ou pegar carona com alguém que estivesse indo treinar lá no Maria Lenk também. Foi um gasto maior, mas eu estava muito feliz de conseguir voltar a treinar”, conta, animada para o desafio em Tóquio.
A terceira Olimpíada de Jaqueline
Jaqueline Ferreira será a representante brasileira no levantamento de peso nas Olimpíadas. A atleta, de 34 anos, é do Rio de Janeiro, federação que representou em suas últimas participações. Em 2018, antes de Tóquio, ela decidiu “se mudar” para o Amazonas, quando solicitou a troca de federação. Segundo a atleta faltava mais apoio para a modalidade na Federação Carioca.
Ela compete na categoria até 87kg e vai participar de sua a terceira – e provavelmente a última – Olimpíada seguida. Jaqueline competiu em Londres, em 2012 e Rio, em 20 16. “A de 2012 foi ótima. Fiz recorde brasileiro na categoria . Fiquei com a quinta colocação. O melhor resultado de uma brasileira nas olimpíadas. Em 2016 eu acabei me lesionando. Não foi uma boa participação. Por isso é tão importante esta terceira para apagar a última. Estou bem esperançosa para conseguir um bom resultado”, declarou.
Estreante olímpica com muita moral
A goleira Leticia Izidoro Lima da Silva, de 26 anos, chega a sua primeira disputa de Olimpíadas. A carioca foi muito bem no Corinthians na temporada de 2017 e teve passagens pelo Osasco Audax, São José, Vitória das Tabocas e Avaí/Kindermann, chega com moral na seleção. Atualmente defende o Benfica de Portugal. Também fez parte da seleção brasileira na Copa do Mundo Feminina da FIFA 2015.
Lelê, como é conhecida, conta com nove títulos em sua carreira: Copa Libertadores Feminina, Copa América Feminino, Sul-americano Sub-20 Feminino, Nacional Feminino, Taça da Liga Feminina, Copa do Brasil de Futebol Feminino e Campeonato Brasileiro Feminino. Um senhor reforço para o time feminino.
Promessa para os Jogos de 2024
Promessa para as Olimpíadas de 2024, a judoca carioca Eliza Carolina Ramos, de 18 anos, está escalada para acompanhar a equipe e dar suporte aos treinamentos da medalhista olímpica Mayra Aguiar, da categoria meio-pesado, em Tóquio. Nascida na Mangueira, na Zona Norte da cidade, Eliza começou a lutar em um projeto social que existe até hoje na comunidade. Aos 14 anos, passou a treinar pelo Flamengo, clube onde está até hoje. Aos 15 anos, ela passou a integrar a seleção brasileira de base de judô. “Eu amo o esporte que eu faço. Não me imagino fazendo outro”, declarou.
No último dia 4 de junho, no entanto, a atleta foi vítima de um assalto na Zona Norte do Rio e e teve roubados equipamentos de treino e uma pasta onde estavam todos os documentos, inclusive o passaporte.Com viagem marcada para o começo de julho para Tóquio, com a delegação que vai para as Olimpíadas, ela agora luta para conseguir embarcar e pede que, caso alguém encontre, devolva o documentos. Esperamos que, no futuro Eliza só precise lutar por pódios e medalhas.
Fotos: COB e Reprodução