Por Marcos Maynart
Depois de vinte anos sem fazer novelas, Selton Mello voltou à telinha para dar vida a Dom Pedro II em Nos Tempos do Imperador, que estreou em 9 de agosto. O ator confessa que o personagem histórico o influenciou para aceitar o trabalho. “Fiquei muito curioso em tentar desvendá-lo”, afirmou. Para compor o personagem, Selton mergulhou em obras biográficas, mas além de fazer o que os autores escrevem, busca seguir sua própria inspiração e sensibilidade sobre o homem que foi tão pouco retratado na dramaturgia, ao contrário do pai, Dom Pedro I.
Os trabalhos interrompidos pela pandemia do Covid-19 não foram um problema para Selton, que chegou a gravar mais uma temporada de Sessão de Terapia antes de retomar as gravações da novela. “Os primeiros dias foram de readaptação, mas passados dois dias tudo já estava de novo nos eixos”, afirma. Em entrevista à revista Mais Rio de Janeiro, o ator fala um pouco sobre como foi mergulhar nesse universo.
Como é interpretar Dom Pedro II em Nos Tempos do Imperador ?
O prazer é enorme! Fazer um homem que faz parte do imaginário do Brasil, tão importante. Ao mesmo tempo, uma responsabilidade muito grande. Tem pessoas que idealizam esse Dom Pedro, de uma forma X, outras de forma Y. Um acha isso dele, outro aquilo… Eu estou fazendo o que os autores escreveram, um recorte de um período desse personagem. E estou fazendo seguindo minha intuição, minha sensibilidade, minha impressão sobre esse homem, esse imperador, esse cidadão, esse pai, esse cara que era muitas coisas. É muito gratificante, muito emocionante trabalhar com um material assim tão raro.
Algum dos feitos de D. Pedro II te deixou mais surpreso?
Não teve um, mas uma soma de muitas qualidades, de muitas coisas que ele conseguiu imprimir e que ficaram. São muitos legados importantes até hoje: a preocupação com a educação, de que só através dela um país cresce; a importância de criar cidadãos conscientes no país. Tudo isso é muito bonito de ler e entender. Ao mesmo tempo, uma responsabilidade enorme dar vida a esse personagem tão emblemático. O que alivia um pouco o peso é o fato de não ter tido, no audiovisual, um outro ator que tenha feito Dom Pedro II. Dom Pedro I é muito retratado, mas Dom Pedro II, menos. Isso foi interessante e fica um registro de Dom Pedro II, durante um bom tempo, com a minha impressão. Isso é muito bonito.
Como foi o processo de composição para o personagem? Foi ler sobre Dom Pedro II, estudar o assunto ou preferiu se distanciar do personagem real?
Eu leio bastante. Li muitos livros, com vertentes diferentes, com autores que achavam coisas diferentes dele, para eu poder ter elementos distintos. E depois eu vou e faço. Como eu era na infância atuando. Para mim, atuar é algo leve. Por isso fiquei tão comovido com a Rayssa, nossa skatista medalhista. Fiquei muito comovido com essa menina, porque ela estava ali, fazendo o trabalho dela com leveza, se divertindo. Fiquei emocionado. Assim que eu era e assim que eu sou como ator. Eu me divirto, é leve, não tem grandes psicologismos ou preparações. Eu já sabia desde cedo que esse era o meu caminho, então eu continuo trazendo essa leveza para o meu trabalho. Claro, respeitando o processo histórico, respeitando traços marcantes desse personagem. Mas, ao mesmo tempo, fazendo do meu jeito, como eu imaginei que ele poderia ser.
A novela começou a ser produzida e gravada no ano passado e parou por causa da pandemia. Depois, voltou a ser gravada para estrear com mais da metade da trama pronta. Foi complicado para você manter o foco, entrar e sair do personagem?
Não foi complicado, porque desde o início, nas conversas com o Vinícius (Coimbra, diretor artístico) e os autores, Alessandro Marson e Thereza Falcão, já tínhamos definido um caminho para ele e eu já tinha uma intuição de como gostaria de fazer esse personagem. Claro que parar, voltar, Sessão de Terapia no meio, é sempre complexo. Mas pelo fato de a gente ter colocado a novela no trilho, é um pouco como andar de bicicleta. Os primeiros dias de readaptação, mas passados dois dias tudo já estava de novo nos eixos.
Você volta a fazer novela depois de muito tempo. O personagem influenciou no seu retorno?
Completamente. Tive alguns convites ao longo desses 21 anos, mas eu sempre estava envolvido em cinema, teatro. Cinema foi o que mais fiz esse tempo todo. Em alguns momentos até quase deu, mas aí esbarrava em agenda, tipo “em maio tenho que fazer esse filme”. Então, não cabia. Novela é uma obra longa. Mas agora surgiu esse personagem e fiquei muito curioso em tentar desvendá-lo. As próprias biografias não conseguiram desvendá-lo completamente e nem eu conseguirei. Daremos uma impressão de Dom Pedro II e isso é muito estimulante. Um personagem que tem tantos elementos, mas também tem muitas lacunas. Essas entrelinhas me interessam; o homem por trás da coroa, seus dilemas pessoais. É muito interessante essa viagem, essa aventura emocional.
Parece que um dos principais pontos da história será uma paixão avassaladora e proibida do imperador. Como será isso?
A paixão pela Condessa de Barral foi algo marcante na vida desse homem, que foi criado sem os pais e teve tutores em seus lugares. Portanto, atrás da aura de imperador vivia também um menino eternamente órfão. Mas não apenas isso nós veremos. Perceberemos a grandeza desse homem que sonhava um Brasil grande, recheado de conhecimento e educação.
Como você acha que a obra será recebida pelo público?
Não temos como saber, mas acho que o público vai se encantar com a trama, com as escolhas dos autores e da direção, e se impressionará com semelhanças estruturais de nosso país, mesmo tendo passado mais de 150 anos.
Depois de tantos filmes, novelas e programas, ainda dá para aprender com um novo personagem?
Sempre! Essa é uma das belezas de minha profissão, poder aprender sempre. Sobretudo agora, com esse personagem mítico, cheio de nuances.
Foto : Ramon Vasconcellos/TV Globo