Já Alessandro tem grandes motivos para comemorar a volta da sua Rouge, a dançarina da Boate Strass, “vibrei muito, porque essa novela é uma delícia e a reapresentação no mesmo horário, é como se fosse uma estreia. Além de ser uma história divertida, ela fala de temas importantes de uma maneira leve”, diz o ator.
Com o passar da história o público descobre que Rouge também é Rogério, um advogado/promotor público que acaba por ser convocado a fazer a defesa de Malagueta (Marcelo Serrado). Para o ator isso foi um dos pontos altos da história, pois mostra a vida real de uma Drag Queen. Confira a conversa descontraída com os dois.
Como surgiu a Rubia e a Rouge na vida de vocês?
Gabriel: em 2016, fazíamos Sara e Nina o show dramático Minhas Mulheres Tristes, trabalho que desenvolvi com o Alessandro. Esse show fez sucesso, ficamos em cartaz 6 meses e causou um burburinho no Rio de Janeiro e todo mundo perguntava “quem são essas drags que cantam samba-canção e estão fazendo show no reduto do samba carioca, na Lapa?” O espetáculo era lindo! Por causa disso, tivemos visibilidade e reconhecimento. Ganhamos destaque na mídia. Com isso, meu nome chegou ao produtor de elenco de ‘Pega Pega’, o Fábio Zambroni. Fiz o teste e passei! Foi aquela sensação de sonho se realizando, que as coisas estão dando certo, o que é tão difícil na nossa carreira. São muitos mais não que sim.
Alessandro: Gabriel foi convidado para fazer o teste para o papel de Rúbia, por causa do nosso trabalho de Sara e Nina.Ele passou e como precisavam de mais drags, ele me indicou, eu fiz o teste e é assim entramos os dois na trama.
Já tinham imaginado fazer um personagem tão importante na televisão? O que isso representou pra vocês?
Gabriel: todo dia eu imagino e sonho com isso! Inclusive com personagens muito maiores e impactantes. Se não for assim, nem descia pro play. (Risos)
Mas a Rúbia foi sim uma surpresa pra mim, pelo menos o tamanho e proporção que a personagem se tornou na trama e no Brasil. Por outro lado, eu tinha consciência da responsabilidade e importância da personagem. Tive a oportunidade de conversar muito com a autora e a equipe de direção sobre os caminhos possíveis para a personagem. Fui muito ouvido e isso é tão importante… Faz toda a diferença quando estamos falando em representatividade.
Alessandro: Na verdade foi tudo tomando forma junto com a novela e como a autora e a equipe de autores pensavam a trama. Novela é uma obra aberta. Então a gente vai se surpreendendo a cada capítulo que recebe. A Rúbia era uma personagem mais delineada já, era importante para a trama da personagem de Camila Queiroz e do Guilherme Weber. A Rouge foi uma surpresa, ela foi crescendo durante a trama, isso foi surpreendente. É muito importante levar pautas LGBTQIA+ para todos os lugares, para as pessoas terem mais contato com nossas vivências. E a novela trouxe tudo isso de maneira amorosa, simples. A personagem do Gabriel, a Rúbia, deixava fluir de forma muito orgânica assuntos importantes para nós da comunidade LGBTQIA+.
Conta um pouco de vocês! Vieram do teatro? O que fizeram depois de Pega Pega?
Somos de Brasília e ambos formados em teatro. Alessandro na Unb e Gabriel na CAL. Gabriel ainda é formado em letras pela UFRJ e Alessandro em Balé clássico pela academia de dança clássica de Brasília – Norma Lillia. Temos uma estrada nas artes cênicas. Com muito teatro, dança, música, cinema. Alessandro também tem uma longa trajetória: fez muito teatro, dança clássica e contemporânea, musical, cinema. Tivemos por algum tempo um núcleo de treinamento e pesquisa e logo em seguida começamos a trabalhar nossas drags – Sara e Nina – e isso vem acontecendo desde 2014. É um trabalho muito importante de luta pelos direitos LGBTQIA+. Somos uma dupla de cantoras Drags Queens. Nosso trabalho tem nos levado a vários lugares, cantamos no congresso nacional, demos palestra no TEDx, estamos lançando nosso primeiro disco – Céu de Framboesa’– e já preparando o segundo álbum – Minhas Mulheres Tristes.
Agora que a novela está sendo reprisada qual a sensação e o assédio das pessoas?
Gabriel e Alessandro: Da primeira vez que Pega Pega’ foi exibida, o público foi sendo conquistado aos poucos. A vida das drags foi trazida de forma cotidiana, quase comum (como é na nossa vida) e foi muito bem aceita pelo telespectador. Assim as personagens foram conquistando as pessoas com o decorrer da trama e isso vem se repetindo agora. O que muda é a forma de receber o carinho, por conta do período da pandemia, em que só saímos de casa a trabalho, tudo tem se concentrado nas nossas mídias, via mensagem pelo Instagram ou Whatsapp. Recebemos muitos comentários carinhosos de pessoas que se identificam com as histórias vividas pelas personagens e agradecem por se verem validadas na televisão.
Foto: Acervo Pessoal