Por Claudia Mastrange
Parece que foi ontem. Os fãs que acompanham o trabalho de Carla Diaz ainda lembram com frescor na memória daquela pequenina em Chiquititas e também da espevitada Khadija, da novela O Clone, atualmente em reprise no Vale a Pena Ver de Novo, na Globo. Mas a atriz, de 31 anos, está completando nada menos que 29 anos de carreira. Uma senhora trajetória para uma jovem atriz, que é movida pelo amor à arte e está sempre em busca de novos desafios.
No início do ano, ela se mostrou inteira para o país, participando do Big Brother Brasil 21, em plena pandemia. Parecia uma novela dentro do reality. Se apaixonou, foi para quarto secreto, teve uma volta triunfal, se ajoelhou aos pés do amado, sorriu, chorou, brigou, articulou, viveu. Entregou tudo. “Lá dentro é tudo intenso”, conta em entrevista exclusiva à Mais Rio de Janeiro, deixando claro que não se arrepende de ter entrado para ‘a casa mais vigiada do Brasil’.
Finda a experiência no BBB, ela retomou com tudo os trabalhos e comemorou a estreia de uma produção desafiadora: os longas A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou meus pais, duas histórias baseadas nos fatos reais que giram em torno do assassinato dos pais de Suzane Von Richthofen, um crime que chocou o país há 20 anos.. Com cenas de muita emoção, os longas estão em primeiro lugar dos mais vistos no Amazon Prime Video desde a estreia, em 26 de setembro.
Carla também apurou sua veia empreendedora e lançou recentemente sua linha de lenços e de óculos, acessórios indispensáveis em seu guarda roupa desde sempre. Até porque começou a trabalhar em publicidade com 2 aninhos, então a afinidade com esse universo é total. Solteiríssima e feliz com a nova fase cheia de novidades e muitos projetos para 2022, ela celebra a vida e, após vencer um câncer de tireóide, é só alegria e gratidão: “para 2022 tem muito trabalho, estou animada!”.
Em algum momento se arrependeu de ter participado do Big Brother Brasil?
Não! Foi uma experiência intensa. Se você me perguntar se participaria de outra igual, eu digo não. O programa me trouxe coisas incríveis. E lá dentro, é tudo muito intenso.
Qual balanço que faz, agora, depois de ver vídeos e atitudes…de sua participação no programa? Faria algo diferente?
Eu não vi nada. Não quis assistir. E nem deu tempo! Mesmo! Tenho trabalhado muito desde que eu saí do programa. Graças a Deus. Tenho muitos projetos em desenvolvimento e estou bem focada no futuro.
Verdade que já ganhou bem mais que o prêmio do BBB, mas não gosta de gastar? Como investe seu dinheiro e o que se permite ‘consumir’ um pouco mais?
Estou trabalhando muito, mas quem cuida dessa parte financeira é a minha mãe. Ela é quem sabe tudo (risos), cuida do financeiro porque como minha empresária essa é uma das funções dela também. É algo que eu deixo na mão dela, porque eu estou muito focada na parte da criação. Eu tenho vários braços na equipe e cada um tem uma função, porque sozinha eu não conseguiria dar conta de tudo. Hoje a equipe Carla Diaz cresceu, são mais de 10 pessoas. Voltando a pergunta, não é que eu não goste de gastar. É que eu pondero sobre as minhas compras. É realmente necessário ou não? E desde que eu saí da casa, ainda não comprei nada.
Vai assistir a O Clone, qual a melhor lembrança deste imenso sucesso?
Eu assisti na reprise do Viva, que foi recente. E claro que eu estou assistindo. Me emocionei muito com o primeiro capítulo porque me levou para um passado lindo. Ainda mais quando mostram as pirâmides, algo que na época eu queria muito ter conhecido e só esse ano, com o ensaio da coleção dos lenços, eu tive oportunidade de conhecer. E neste dia, eu estava na casa onde nasci e vivi até os seis anos antes de ir para Argentina gravar Chiquititas . E depois, quando voltei aos nove anos direto para o Rio de Janeiro, onde fui contratada pela Globo. Adoro rever trabalhos antigos. Minha lembrança é que era muito gostoso o set de gravação. Eu amava ir gravar a novela. E as pessoas gostavam muito da Khadija. Eu cheguei a ser a atriz que recebia mais cartas na época.


Na pele da espevitada Khadija da novela O Clone, com 11 anos: “Inshalá!” (Foto: Reprodução)
Acha que as pessoas ainda te vêem como aquela menina fofa que só queria ‘muito ouro’?
Não! São 29 anos de carreira quase. Com muitos outros papéis ao longo desse caminho. As pessoas me olham como a atriz que eu sou, mas é claro que existe um carinho por me acompanharem há tanto tempo.
Como foi filmar A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais? Foi muito difícil lidar com a energia dessa história? Precisou de preparo psicológico?
Foi um trabalho que exigiu muita concentração e preparação. Ficava na casa onde nasci em São Paulo porque os filmes foram gravados lá. Eu estudei, pesquisei, fiz preparação com a Larissa Bracher, nossa preparadora de elenco, e com o nosso diretor, Maurício Eça. Fizemos workshops com a Ilana Casoy, que acompanhou todo o caso na época, e com o Raphael Montes, e foquei muito no roteiro. Toda a equipe tinha em mente o cuidado e o respeito com essa história.
Teve alguma proximidade com Suzane?
Nós não tivemos nenhum contato com os réus. Eu falo em toda entrevista, inclusive, algo que acho bom frisar: eles não têm nenhum envolvimento com a produção. Não recebem nada dos filmes. O que eu fiz, nas horas vagas das filmagens, era ficar em casa, quietinha, descansando. Rodamos dois filmes em 33 dias. Os filmes estão em primeiro lugar dos mais vistos no Amazon desde a estreia.


Carla com Leonardo Bittencourt no filme A Menina que Matou os pais (Foto: Reprodução)
Que cenas foram as mais difíceis?
Eu acredito que tenha sido as sequências do julgamento, porque a equipe se emocionou. A cenografia foi muito cuidadosa na reprodução do tribunal. Todas as falas são tiradas dos autos dos processos, dos depoimentos. Foram cenas que exigiram demais de nós.
É uma outra dimensão viver uma personagem ‘real’ e tão impactante como Suzane?
É diferente viver uma personagem de uma história real. A composição não começa do zero. É uma pessoa que existe, que tem um jeito de andar, falar… É uma composição que vem de uma pesquisa e uma elaboração diferente. Eu nunca tinha feito algo parecido.
O que o público comenta? Como tem sido a repercussão desse trabalho?
Tenho recebido muitas mensagens de pessoas elogiando o meu trabalho e fico muito agradecida. Recebi mensagens de pessoas no exterior que assistiram. Estamos em 240 territórios. E os filmes seguem em alta no Amazon Prime Video. Fico feliz de saber que um trabalho brasileiro esteja rodando o mundo. Nosso audiovisual é muito potente e temos profissionais incríveis aqui.
Você saiu de um confinamento para o mundo em pandemia, como foi essa transição?
Para falar a verdade, eu saí do isolamento da minha casa para o confinamento do BBB. A pandemia começou em março de 2020 e eu fiquei com a minha mãe uns bons meses sem sair de casa. Cumprindo o isolamento necessário. Depois, por causa do câncer de tireoide que eu descobri, tive que sair para fazer exames e operar. E depois, curada, entrei para o BBB. Já estava em confinamento bem antes do BBB, essa é a verdade. A diferença é que fui ficar ao lado de pessoas que eu não conhecia e com uma câmera vigiando 24 horas.
Tão jovem e já 29 anos de carreira! Como avalia sua trajetória e que desafios sonha encarar?
São 29 anos de carreira! Eu me sinto bem privilegiada de tão cedo ter encontrado a minha vocação, a minha paixão. Eu nunca tive dúvidas do que eu queria seguir. Eu sou apaixonada pela minha profissão. E agradeço por todas as oportunidades que eu tive. Nada me deixa mais feliz que receber uma personagem nova e descobrir quem é ela. Adoro compor, criar e me descobrir nesses novos universos. Quero seguir trabalhando muito. Já tenho um novo trabalho para o cinema, mas ainda não posso falar, mas é uma personagem incrível da literatura brasileira.
Fale dessa veia empreendedora e de sua linha de produtos…
Eu comecei a carreira fazendo publicidade. Com dois anos. Fiz muitos comerciais. Até tenho uma história curiosa. O Jayme Monjardim, diretor de O Clone, me dirigiu em um comercial quando eu tinha 2 anos. Agora eu me encontro nesse lugar outra vez, fazendo campanhas e muitos trabalhos publicitários. E dentro desse contexto, eu redescobri essa minha veia empreendedora. Ela sempre existiu. Eu e minha mãe produzimos várias peças de teatro minhas. Lancei a minha coleção de lenços numa collab com a Versatilité. E eu amei o resultado. Está linda demais. E lancei também uma coleção de óculos, que eu não tiro mais (risos). Amo! É uma coleção com a Carmen Vitti Eyewear. Como eu uso óculos há anos, participei muito do processo. Eu não consigo não me envolver. Ainda mais em produtos com o meu nome. E eu só faço publicidade do que uso ou gosto. Tem que ser assim.


Carla lançou uma linha de lenços e uma de óculos: empreendedora
Como é a relação com os fãs, que te acompanham por tantos anos? Papeiam nas redes?
Eu tenho uma relação incrível com os meus fãs. Eles são sensacionais. Eu recebo todo dia alguma coisa deles. É um amor que transborda. E é recíproco. Eu os amo e sou imensamente grata. É uma honra mesmo ter esse carinho e amor deles. E eu gosto de trocar. Eles estão sempre me surpreendendo.
Você curte a programação e a natureza do Rio? Toma mate com biscoito Globo na praia e odeia dias nublados? O que mais gosta na cidade? O que faz quando sobra uma folguinha?
Eu sou paulistana, mas me sinto praticamente carioca. Eu moro há mais tempo aqui do que vivi em São Paulo. Com seis anos, fui morar na Argentina, para gravar Chiquititas. Quando eu voltei para o Brasil, uns três anos depois, já vim morar no Rio. E sigo aqui. Nos últimos tempos, eu não tenho conseguido aproveitar nada, porque é só trabalho. Mas eu adoro a energia do Rio de Janeiro e as paisagens. É uma cidade linda!
Quer se apaixonar novamente? Qual é o parceiro dos sonhos?
Eu estou feliz e solteira. Depois que eu me curei do câncer, eu aprendi uma lição: viver o agora. Não fico pensando no futuro. E também existe um desejo de deixar essa parte da minha vida mais privada. Eu sempre fui reservada. E a profissão já nos expõe tanto…
Que projetos vêm por ai em 2022?
Tem um projeto lindo que estou na torcida para ser realizado. Tem muito trabalho e estou animada.
Fotos: Vinicius Mochizuki