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música


Por Claudia Mastrange

Eles não são uma banda, são um movimento. A Blitz foi um furacão de música e informação para a geração que curtiu a plenos pulmões os Anos 80.  Era a música que falava do comportamento e do dia a dia daquela época, com muita criatividade e linguagem direta; eram os cabelos de Fernanda Abreu e Márcia Bulcão; era a mistura de som e teatro no palco e nos clipes, era o som do chamado Rock Brasil invadindo todos os espaços….

Hoje, 40 anos depois, eles se reinventam e seguem caindo na estrada com a mesma energia boa e o olhar em nossos tempos. “Conseguimos atingir várias gerações, além de ganhar o respeito de nossos ídolos de vários segmentos da MPB… Era a hora dessa gente bronzeada (ou não) mostrar seu valor”, lembra Evandro Mesquita, em entrevista exclusiva à Mais Rio de Janeiro.

Além dos shows com a nova formação da trupe, que voltou à sua origem, tocando no Circo Voador, onde tudo começou – só que, antes, no Arpoador – , Evandro revela que a banda prepara 4 álbuns e segue cheio de projetos profissionais para 2022, como dois filmes em que atuou, a ‘Escolinha do Professor Raimundo” e os roteiros em que trabalha e quer produzir em breve. “Gosto de atuar em coisas boas, com pessoas que consiga uma conexão limpa e imprevisível, como no Jazz”, diz o artista.

Confira nosso bate-papo.

Qual era a pretensão da turma quando vocês formaram a Blitz?

A pretensão era de nos divertirmos e tentar agradar os 25 amigos da praia, além de ter uma música que falasse a nossa linguagem em termos de poesia e musicalidade. Uma grande mixagem de todo tipo de música que emocionava a gente.

Você se imaginava comemorando 40 anos da banda?

Não imaginava… Mas sabia que o meu futuro seria alguma coisa ligada a arte. Era assim que entendia a vida. A arte sempre me ajudou a decifrá-la seja escrevendo, atuando, compondo…  A música é a linguagem dos deuses e tentar entender essa comunicação entre nós e o divino é emocionante.

Como é ter esse amor de várias gerações?

Sempre queríamos falar com a nossa geração… Mas como nossos ídolos sempre foram de uma geração antes da nossa, acredito que pela teatralidade inusitada e o humor nas apresentações da “escolas de samba” e a poesia direta da Blitz, conseguimos atingir várias gerações, além de ganhar o respeito de nossos ídolos de vários segmentos da MPB.

Ouvem muitas histórias de fãs fiéis?

Sim. Temos muitos fãs fiéis em vários estados do Brasil. Que contam histórias e passagens de vida com referência as nossas canções e shows. Fomos a primeira banda a viajar em tempos de “entradas e bandeiras”. Fomos os primeiros a fazer show em estádios e ginásios pelo Brasil. Viajávamos com dois caminhões, um com equipamento de som e luz e outro com cenários e adereços. Investíamos muito nessa produção para que o público de outros estados pudessem ter o mesmo impacto e o mesmo show de Rio e São Paulo. E até hoje amigos e fãs contam histórias de suas relações com nossa música e shows. É emocionante!

Como viram o sucesso estrondoso e o pioneirismo na época e como definiria a importância cultural da banda? Era praticamente um movimento não só musical e artístico, mas comportamental, estético…

A banda deu voz e vez ao underground. Metemos o pé na porta das rádios, gravadoras e tvs. Era a hora dessa gente bronzeada (ou não) mostrar o seu valor. Com todas as referências dos grandes da MPB, João Gilberto, o humor de Noel Rosa e Adoniran, a  jovem guarda, os ídolos da Tropicália, Mutantes, Novos Baianos, Moreira da Silva, Zé Keti, Led Zeppelin, Beatles, Stones, Hendrix, Santana, Jackson – o do Pandeiro e o Michael… As histórias de Luiz Gonzaga… Tudo isso ferve no caldeirão e no liquidificador da Blitz e resulta em receitas próprias.

E foi  uma surpresa causar  tanto ‘barulho’?

Foi surpreendente quando tivemos duas músicas proibidas pela censura. Deu uma ponta de orgulho. “Porra, os censores ouviram nosso disco!” Foram nossos primeiros ouvintes! Rs. A gente achava que isso só acontecia com o Chico, Gil, Caetano… tinha um certo orgulho matinal. E riscar com prego a “master” do disco fez a curiosidade crescer em cima da banda, que lançou um compacto super simples com apenas uma música “Você não soube me amar” no outro lado eu : “Nada, nada, nada”. E, sem foto na capa, instigou todo mundo pra ver q banda era aquela e quem fazia aquele som!

A importância do sucesso do nosso som fez com q toda gravadora quisesse ter uma blitz pra chamar de sua e abriu as portas para várias bandas de todo o Brasil!

Como a Blitz se reinventa? Concorreu inclusive ao Grammy né?

Com essa bagagem importante continuamos produzindo muito. Em 2017 fomos indicados ao Grammy Latino com um disco de inéditas. Até brinco dizendo que quando a gente começou não existia nem Grammy e agora estamos latindo… Alto.

Nos reinventamos movidos pelo prazer, pela aventura das possibilidades do estúdio e da estrada, nos encontros inusitados, nas parcerias nos discos que estamos preparando. Que são 4!!! Um Blitz Hits, para termos os fonogramas e a qualidade de hoje. Outro de Lado B, um de inéditas com parcerias e participações e inusitadas. Outro de Blitz interpretando outros compositores… Foi o que segurou nossa cabeça e onda na pandemia. Daqui a pouco lançaremos.

Nos reinventamos nos inspirando no momento, na vida. A indicação ao Grammy foi um prêmio maravilhoso e um incentivo para seguirmos compondo e na estrada.

E em que medida o cenário da juventude atual é diferente dos anos 80, inclusive no gosto musical?

 Quando surgimos o painel musical das rádios era parecido… quase nada falava diretamente a nossa juventude, mas o Brasil é enorme e acho sadio ter essa diversidade musical e opções variadas… Vale o garimpo individual e as descobertas dos nichos que te interessam, né?!

Como definiria o som que a banda faz hoje?

Hoje fazemos um som Blitz, que junta isso tudo daqui, de lá e de acolá … Esse é o nosso caldeirão!

 Como é voltar ao Circo Voador, que era literalmente a praia da turma da juventude e do Rock Brasil nos Anos 80?

O Circo Voador foi uma nave espacial que pousou num dos lugares mais lindos da América do Sol. Pilotado pelo Perfeito (Fortuna) e pelo Asdrubal (Trouxe o Trombone, grupo) , durante dois meses e meio e fez uma revolução na arte e na música contemporânea.

A Blitz também estreou o circo da Lapa já com a música na rádio e sempre é sensacional tocar naquela lona que segura um astral revolucionário e atuante na cultura do Rio.

Fernanda Abreu estava na formação original e participou do show… Qual o segredo para manter uma amizade/parceria de 40 anos?

Fernanda estará com a gente nesse show e sempre esteve na nossa memória afetiva. Uma torcida mútua gera boas energias. Somos testemunhas de momentos inesquecíveis que estão tatuados na nossa alma

Se Fernanda é a ‘garota carioca’, você é também considerado um ‘menino do Rio’… O que ama nessa cidade e o que poderia melhorar?

Amo o Rio, a casa que nasci, descobri meus mestres do Teatro Ipanema, tive o privilégio desse encontro agora, 19 anos depois. Sinto muita falta das ruas do Rio por onde andei, de Ipanema aos subúrbios, das praias e encontros inusitados, das trocas precisas de informações, das folhas das amendoeiras na rua que desembocava nas praias… Infelizmente era tudo melhor. Apesar da terrível ditadura, censura e loucura da época. “Tudo era perigoso, tudo era divino maravilhoso”.

Você segue fazendo, além de música, trabalhos como ator.  Gosta igualmente de atuar?

Gosto de atuar em coisas boas, com pessoas que consiga uma conexão limpa e imprevisível, como no Jazz. É difícil e raro, mas é a busca constante desse êxtase.

Conta um pouco do trabalho na “Escolinha do Professor Raimundo” e dos filmes que estrearão esse ano?

A “Escolinha”, como o Bruno disse “é mais que um programa de humor, é um programa de amor”, de reverência e respeito ao Chico (Anysio) e aos mestres que encheram e acompanharam nossa infância e adolescência, nos brindando com momentos de alegria. Em relação aos filmes, fiz  “O Palestrante” , do Fábio Porchat, e “Carga Máxima”, que estrearão esse ano.

Soube que sua veia roteirista esta a mil… O que vem por ai? Pode revelar um pouquinho?

Escrevi um longa com a Patrycia Travassos. E uma série, com o Mauro Farias, da nossa peça “Esse Cara Mao Existe”. Também escrevi uma série sozinho. Estamos buscando parcerias saudáveis e atentas porque confio muito nesses projetos!

Qual o segredo de vitalidade e alegria desse quase setentão cheio de energia?

O segredo é respeitar a vida… porque ela é sagrada! Viva o amor, a ciência, a paz, a solidariedade e a natureza! O planeta agradece!

História de uma banda inclassificável    

Em 1982 a lona foi esticada sobre o Arpoador. Surgiu um espaço multicultural e democrático conhecido como Circo Voador. Naquele palco praiano nasce a BLITZ.

Em julho daquele ano a banda gravou o compacto ‘Você não soube me amar’.

Em três meses o compacto vende 100 mil cópias e atinge a marca de um milhão de cópias vendidas em plena crise da indústria fonográfica. Na sequência, lança o primeiro LP ‘As Aventuras da Blitz’, com venda mais impressionante que a do compacto.

A Blitz era inclassificável. Com sua origem no grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, o grupo ganha capas de revistas importantes como Veja, Manchete e Isto É. Evandro & cia arrombaram as portas do Rock Brasil, a MPB nunca mais seria a mesma. O sucesso da banda mudou o panorama das rádios e das gravadoras do Brasil.

A banda fez grandes shows em ginásios e estádios, e invade espaços como o extinto Canecão, onde batia recordes com a juventude do Rio se vendo no palco, representada pela Blitz.

Duas apresentações merecem destaque: no primeiro Rock In Rio, em 1985 e na Praça da Apoteose, em 1984, quando foi o primeiro grupo a se apresentar naquele palco para mais de 50 mil pessoas.

A formação atual da Blitz é Evandro Mesquita (vocal, guitarra e violão), Billy Forghieri (teclados), Juba (bateria), Rogério Meanda (guitarra), Cláudia Niemeyer (baixo), Andréa Coutinho (backing vocal) e Nicole Cyrne (backing vocal).

Fotos: Divulgação