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Rio de Janeiro / Cotidiano

Atriz brilha na série “Bom Dia Verônica”, diz que as mulheres podem romper qualquer padrão limitante e se assume uma mãe cheia de amor e contradições

Uma gauchinha cheia de sonhos… e talento! Juliana Didone iniciou sua carreira de atriz no teatro, aos 14 anos, atuando na peça com a direção de Paulo Guerra, “Caçadores de Aventuras”, em sua cidade natal, Porto Alegre. O sonho de ser atriz já era latente, mas precisou esperar um pouquinho para aflorar, pois, aos 15 anos, ela foi para o Japão, tocar uma bem sucedida carreira de modelo. “Desde criança eu falava em ser atriz. Adorava assistir filmes, novelas, saber quem eram os atores que faziam aqueles personagens. Adorava que não era real. Essa fantasia sempre me fascinou”, conta.

Pois a menina cresceu, apareceu e fez bonito como modelo, além de construir uma bela trajetória como atriz. De volta ao Brasil, Juliana, 37 anos, seguiu sua verdadeira paixão e vocação pelo mundo das artes cênicas. Em 2002, estudou Cinema e Televisão em São Paulo, cursando a Escola de Cinema Fátima Toledo. E não parou mais. Daí para frente, foram várias novelas, séries e trabalhos marcantes.

O pontapé inicial foi em 2004, com sua estreia na Globo, participando de vários trabalhos de sucesso como a protagonista Letícia, na série “Malhação”, temporada que até hoje é lembrada por ter alcançado o maior nível de audiência dentre as 27 exibidas. Destaque também para a Baby, da novela “O Profeta”, a sonsa Fernanda de “Paraíso Tropical”, a Celeste de “Negócio da China” e a Brigitte de “Aquele Beijo”.

Em 2013, na TV Record, enfrentou o desafio de viver as gêmeas Maria Clara e Leila na novela “Pecado Mortal”, de Carlos Lombardi. Também atuou em “Os Dez Mandamentos”, “Belaventura” e  “Topissima”, com personagem Yasmin, que marcou novamente a veia de humor em sua carreira.

Juliana também participou, em 2014, da série “Surtadas na Yoga”, de Fernanda Young, no Canal GNT, e da série “O Hipnotizador”, na HBO, em 2015.Teve atuações elogiadas no teatro e no cinema, em filmes como “Meu Passado me Condena”, “Super Pai”, “Colegas” e “Memória Tangerina”, neste último atuando também como produtora.

Atualmente a atriz está no elenco da segunda temporada de “Bom Dia Verônica”, produção brasileira na Netflix, com repercussão mundial e dirigida por José Henrique Fonseca.

Na vida pessoal, só alegria também. Mãe carinhosa da fofíssima Liz, de 4 anos, a atriz não esconde a personalidade marcante e, em momentos como “Dança dos Famosos”, em que gerou polêmica ao dançar vestida de ‘toureira’, ressalta a força feminina e solta a voz contra preconceitos e pensamentos que limitam o papel feminino. “Fomos ensinadas a não aplaudir uma mulher que ousa”, dispara Juliana, nessa entrevista exclusiva à Mais Rio De Janeiro, ela, que prepara sua estreia em um monólogo para 2023. Tem tudo para ser mais um sucesso!

Você começou a carreira muito cedo, já sentia que seu caminho era a arte? Ou a moda também era uma grande descoberta?

Desde criança eu falava em ser atriz. Adorava assistir filmes, novelas, saber quem eram os atores que faziam aqueles personagens. Adorava que não era real. Essa fantasia sempre me fascinou.

Como foi viver no Japão aos 15 anos? Passou muito perrengue para se adaptar? Lembra alguma história engraçada ou curiosa?

Eu queria muito ir, então acho que isso facilita no processo de qualquer adaptação. O desejo é fio condutor, o que te move. Claro que língua foi super um choque, eu não entendia nada. Nem inglês eu falava. A comunicação era o mais complicado mesmo, mas a mímica ajudou muito. Tai, desde sempre o teatro aparecendo.

De tantas personagens que interpretou, quais foram mais prazerosas e quais foram mais desafiadoras?

Todas tiveram desafios, mas foram diferentes, únicos de cada personagem. Eu sinto prazer em todas, juro! Amo meu trabalho, cada composição de personagem é uma alegria infinita. Mas as dissimuladas são as melhores, rs.

Tem preferência por mocinha ou vilã? A dissimulada Fernanda de “Paraíso Tropical” dá ranço ate hoje (RS)

Tá vendo! O público ama, e o ator também ama fazer. E o entretenimento tem essa função né? Nos tirar da realidade um pouco, então personagens carregados de cores vivas despertam emoções mais afloradas em todo mundo.

Tem algum tipo específico que gostaria e viver em cena?

Tenho vontade de fazer um texto clássico no teatro. Um Tennessee Williams, um Tchekov, Shakespeare… Aceito convites, rs.

No “Dança dos Famosos”, houve a polêmica sobre o figurino de ‘toureira’. E você sempre foi à frente, independente, além se buscar sempre ressaltar a condição feminina… Porque ainda é preciso lutar tanto para romper com esses limites?

Fomos ensinadas a não aplaudir uma mulher que ousa. Seja na escolha de roupa, na decisão de uma separação, de querer trabalhar e não ficar em casa cuidando dos filhos… Temos que nos enquadrar no padrão do que a sociedade considera uma mulher adequada. Isso acontece desde sempre, reflexos do patriarcado. Mas, eu acredito na luta, ainda que seja eterna. Desistir jamais! Por isso que eu acho as provocações necessárias.

Você declarou que sofreu anorexia, quando adolescente, iniciando como modelo… Como foi para superar essa doença? Acha que hoje as pressões estão menores ou o acesso às informações ajuda a identificar e fazer com quem sofre busque ajuda?

Acesso à informação sim, ajuda muito, mas principalmente a inclusão de novos padrões de beleza no mundo da moda. A diversidade de corpos e gêneros é muito importante para a autoestima de adolescentes. A gente é muito inseguro nessa fase. Hoje a autenticidade é muito mais importante do que a magreza.

Conte um pouco sobre a Mônica em “Bom Dia Verônica”? O tema da violência doméstica segue atual infelizmente né? E que sucesso essa série e seu terror psicológico…

Fazer uma personagem que provoque essa reflexão, com uma carga emocional tão complexa, mexeu comigo. Fui procurar depoimentos de mulheres que realmente tinham passado por abusos de fé. E é chocante. Triste e revoltante ver como esses líderes religiosos se aproveitam da crença de pessoas fragilizadas que estão em busca de cura. E é importante tocar na ferida, falar sobre isso. Essa série é maravilhosa, porque revela os horrores que a gente vive em sociedade. E é um desesperado grito de ajuda.  Esse trabalho lembrou o porquê eu amo ser atriz: para poder tocar na ferida, nos horrores que vivemos em sociedade, realidade que pouco é mostrada. Mulheres estão sendo abusadas, violentadas e mortas a cada 7 horas no Brasil, isso é muito grave! Então, é importantíssimo que haja produções como “Bom Dia Verônica”, que coloca uma lente de aumento nos abusos físicos, psicológicos e de poder que os homens seguem exercendo na sociedade. É preciso olhar pra isso, falar sobre isso!

Sente que a trajetória da Mônica pode servir de alerta e ajudar outras mulheres?

Eu penso que sim. Retratar uma mulher que sofre abuso, depois fica completamente confusa e se cala, mas é encorajada por outras mulheres a denunciar o abusador que é idolatrado, pode ser muita inspiração para que mulheres procurem alguém em quem confiar e denunciem! Seja violência doméstica, abuso de fé ou tortura psicológica. É um compromisso gigante interpretar personagens que existem na vida mesmo, com cargas emocionais tão pesadas. Eu as representei da maneira mais fiel que consegui.

Como vê a produção do streaming no país? Inclusive como um mercado ampliado ara artistas, técnicos, produtores….

O Brasil é muito rico culturalmente, a gente tem grandes artistas de todas as áreas. A cultura tem que andar sempre forte porque ela forma e eleva um país.

Fale um pouco sobre a Juliana mãe.Como mudou sua vida? Você é coruja e brincalhona? Fale do canal e como concilia tudo?

Eu mãe, sou uma mistura de atenção e caos. E amor, e vigília, excessos,  arrependimentos, intuição… Acertos e muita tentativa. É difícil conciliar tudo. Ter tempo de executar tudo o que se precisa fazer no dia a dia e tudo o mais que eu gostaria de fazer e o tempo não deu. E o canal veio daí… do desejo de compartilhar as contradições, que são comuns a todas as mães, porque contemos multidões dentro da gente.

Ser mãe de menina tem um diferencial nesse mundo – ainda – machista que vivemos?

Sim, claro. Mas talvez as mães de meninos tenham uma responsabilidade ainda maior, de educar sem que eles percam a sensibilidade, mas fazendo com que eles ganhem maior senso de responsabilidade, de respeito. Mas enquanto o abuso com mulheres for desse nível extremo, eu tenho o alerta ligadíssimo ao que Liz consome, com quem convive, para que os exemplos dela sejam de homens mais desconstruídos, mais esclarecidos, que compartilhem com as mulheres o desejo de acabar com o machismo.

Como esta a preparação para o “Manhê!”…Como é encarar seu primeiro monólogo?

Estamos ainda em fase de produção. Os ensaios começam no início de 2023. Estou ansiosa e feliz em encarar esse desafio.

Vi que você voltou a se exercitar há pouco…Como se cuida no dia a dia e com tanta demanda? E como encara a maturidade dos 37 anos?

Meu hobby agora é pular corda na sala e ver filme com legenda em inglês ao mesmo tempo. Sabe 2 em 1? É sobre isso!(risos) Aí faço uns agachamentos, estudo os filmes que preciso ver…

O que curte fazer no Rio? O que considera a cara da cidade e o que sonha para que se torne ainda mais maravilhosa?

Eu sonho que ninguém passe fome, que exista emprego para todos e que a violência acabe. O Rio é bonito demais para que seja entregue assim. Eu torço pelo Freixo, que ele ganhe dia 2 e a possa fazer renascer o Rio de Janeiro. Tudo é lindo aqui! Passear na orla de qualquer praia. Pode ser Copacabana, Aterro, Guaratiba… Sentar na varanda de algum restaurante charmoso e tomar um drink, ou uma água de coco. Eu prefiro vinho branco (risos). O pôr do sol na Urca, uma sinuca na Lapa, um show que você nem estava esperando…  O Rio te convida despretensiosamente para muitas vibes.

Já tem projetos para 2023 que possa nos contar um pouquinho?

Meu monólogo, “Manhê!”, baseado no livro da Rafaela Carvalho, chamado, “60 dias de Neblina”. Estreia em maio do ano que vem!

Fotos: Edu Rodrigues

Beleza: Dani Kobert

Stylist: Samantha Szczerb