Cantora celebra a conquista no VMA e segue firme na consolidação da carreira internacional

Claudia Mastrange

O mundo parece pequeno demais para a nossa Anitta. A cantora mais uma vez cravou seu nome na história e foi a primeira brasileira a vencer o Video Music Awards (VMA), premiação da MTV americana, conquistando o prêmio de ‘Melhor Video de Musica Latina’ pelo clipe de “Envolver”. E não é para menos: o hit bateu sucessivos recordes e colocou a artista no topo do Spotify Global. O evento aconteceu em 28 de agosto, em Nova Jersey, nos Estados Unidos.

“Meu Deus, eu não esperava isso. Acho que vou chorar. Só quero dizer, para quem não sabe, hoje é história. É a primeira vez do Brasil aqui. É a primeira vez que meu país ganha esse prêmio. Eu quero agradecer: obrigado à minha família e aos meus fãs. Hoje eu cantei aqui um ritmo que, por muitos anos no meu país, foi considerado crime. Eu nasci no gueto do Brasil e, para quem nasceu lá, a gente nunca pensou que isso seria possível. Então muito obrigada”, declarou a garota do Rio em seu discurso.

E para comemorar, mete dança. Anitta arrasou na performance, sendo – mais uma vez – a primeira brasileira a se apresentar no palco do VMA. Ela cantou e dançou “Envolver”, com um corpo de bailarinos e, na sequência, emendou trechos de sucessos como “Vai, Malandra” e “Movimento da Sanfoninha”. “Vocês pensaram que eu não ia rebolar a minha bunda hoje?”, bradou sua frase característica para o público em inglês.

Há alguns dias, a revista Billboard divulgou uma lista elegendo as melhores apresentações do  (VMA) 2022  e conferiu à Anitta o terceiro lugar entre as performances. O primeiro lugar ficou com Nicki Minaj, vencedora do VMAs Video Vanguard Award de 2022. E a segunda posição ficou para Jisoo, Jennie, Rosé e Lisa, do grupo BlackPink, ques fizeram a sua estreia na premiação norte-americana e ainda levaram para casa dois grandes prêmios.

Coreografia viralizou

“Envolver” parece ter aquele toque de Midas que simplesmente fez a música ganhar o coração de anônimos e famosos. Quatro meses desde o lançamento, o single tornou-se febre global e a coreografia viralizou no TikTok — “el paso de Anitta” — sendo reproduzida por muitas celebridades, que postavam e repostavam nas redes sociais.

Por essas e outras, muitos famosos celebraram a conquista de Anitta. Claudia Raia lembrou das origens da cantora, em uma postagem no Instagram. No story, a atriz, emocionada, a parabenizou: “Brava! Brava! Brava! Nós te aplaudimos de pé”. Maraisa, Pabllo Vittar, Paulo Vieira e Felipe Neto também comentaram a vitória da cantora.

Foi a primeiro indicação de Anita ao prêmio e ela já chegou levantando poeira. Entre seus concorrentes estavam nomes como Bad Bunny, que levou o prêmio de artista do ano, Daddy Yankee e J Balvin.

Mas não é de hoje que a cantora vem colecionando conquistas.  Em 2015, ela arrebatou a premiação ‘Europe Music Awars’ com a música ‘Deixa Ele Sofrer‘, concorrendo com Axel, J Balvin e Mario Bautista, se tornando a única brasileira a ter o prêmio.

Em 2021, Anitta recebeu  convite para,  ao lado dos maiores nomes da música internacional, apresentar na festa de Ano Novo mais conhecida por artistas pop no mundo, o réveillon na Times Square, tradicional celebração de Nova York.

Já milionária, com uma fortuna estimada em mais de R$ 550 milhões, de acordo com a  revista Forbes, Anitta teve o impulso definitivo para a carreira internacional com o estouro de “Girl From Rio”, lançada em abril de 2021. A música – que depois integrou o álbum “Versions of Me” – logo ficou entre as 40 mais tocadas nas rádios americanas e ganhou até remix com o rapper DaBaby.  Daí para cá, só conquistas e prêmios, culminando agora com o VMA.

Poderosa: bateu, levou

E será que o sucesso incomoda até aos gringos? Dias depois dessa celebrada conquista, ela foi ofendida pelo rapper americano Yung Cyph, que compartilhou um vídeo publicado pela artista brasileira com imagens da sua participação no VMA.  Na legenda do post, a cantora escreveu: “E foi assim que a mágica aconteceu”. Ao compartilhar o vídeo, o rapper declarou: “Essas vadias estão aqui na internet se arreganhando por pouco, quando poderiam quadruplicar [o dinheiro] fazendo algo que realmente envolve talento e inteligência, mas elas não são tão espertas, então elas desrespeitam qualquer homem que possa ajudá-las”.

Sem papas na língua, a poderosa não deixou o comentário ofensivo passar batido e mandou na lata: “Vá fazer a porr* do seu dinheiro e cale a boca. Ou você pode ir estudar antes de falar sobre mim para que você possa aprender alguma merda de verdade”, disparou a cantora, que também virou notícia depois de aparecer travada e sem sapatos em uma festa após a premiação. “Esta é uma pessoa que ganhou uma coisa inacreditável em uma boate e eu estava em choque”, explicou nas redes sociais.

Nascida Larissa de Macedo Machado,  no bairro de Honório Gurgel, subúrbio do Rio, em 1993, ela começou a cantar aos 8 anos de idade no coral da Igreja Santa Luzia, no mesmo bairro. Desde essa época, já “queria ser artista, rica e famosa”, dizia a menina.

Ela começou a aparecer nas redes sociais fazendo cover de ídolos, como Britney Spears e Beyoncé, até ser descoberta por Priscila Nocetti, da icônica Furacão 2000, que passou a empresariá-la.  Mais adiante,  ficou sob o empresariamento de Kamilla Fialho, que orientou sua mudança de visual – incluindo aí implante de silicone e rinoplastia – e fez a transição do funk para a música pop. Estava assinada a sentença do sucesso!

Dona da própria história

A garota do Rio ganhou o mundo com sua música e personalidade

O passo seguinte de Anitta foi o toque de ousadia que fez a diferença. Já estourada nacionalmente e vendo que poderia ir muito mais longe, ela rompeu por uma quantia milionária com Kamilla Fialho, em 2014, e tomou as rédeas de sua carreira. O rompimento resultou em uma disputa judicial, só encerrada com um acordo de R$10 milhões, pagos por Anitta, em 2019. Ou seja, longe de se acomodar com o sucesso, o que para um artista pode significar estagnação e risco de declínio, Anitta soube se antecipar, quebrar as regras e se reinventar.

“Eu fui minha própria empresária por dez anos e há uma razão para isso: como as pessoas, normalmente, ao olhar uma garota jovem, que canta, dança e é sensual, sempre subestimam seu talento ou o que pode fazer ou saber sobre negócios, durante 10 anos eu comandei minha carreira, tomei todas as decisões e estratégias”, explicou em entrevista à Forbes, deixando bem clara a palavra que marca seu diferencial, além do talento: estratégia.

Nesse foco, o som pop de Anitta abriu espaço para o reggaeton e a música eletrônica, a carreira alavancou. Ela se tornou a primeira artista brasileira na lista Top 50 Global do Spotify. E se manteve diversas vezes na lista com sucessos como: “Bola, Rebola”, “Downtown”, “Vai Malandra”. Por conta de sua ascensão e visão empreendedora,  comandando uma empresa com cerca de 50 pessoas, a cantora foi convidada a dar uma palestra no Brazil Conference at Harvard & MIT, evento anual organizado pela comunidade brasileira em Boston, nos Estados Unidos.

Essa solidificação paulatina de sua projeção no exterior vem se firmando desde 2017, quando a cantora fazia sua primeira investida na carreira internacional com “Paradinha” e dizia ter “um plano A, um plano B e um plano C” para bombar lá fora. “Eu acabei não seguindo nenhum dos planos que eu tinha porque tudo aconteceu de um jeito bem diferente do que planejei. Tive que improvisar, mas acabou dando mais certo do que eu imaginava”, contou em entrevista.

E depois de lançar mais de 30 singles em diferentes línguas, hoje consegue rentabilizar significativamente seu trabalho fora do Brasil, tendo mais de metade das suas receitas em moeda estrangeira. Ou seja, Anitta fatura mais em dólar, do que em real.

Com as contas mais do que em dia, comprou casa em Miami e segue firme em sua trajetória ascendente, com muito trabalho. “Falo para todo mundo que uma coisa que não pode ter aqui é ego. Tem que ter muita humildade e não ter medo de falhar. O que mais me ajuda aqui fora é a minha rede de fãs, e os brasileiros têm me apoiado muito”, disse Anitta à CNN, quando se mudou para os EUA, ano passado, para investir ainda mais na carreira internacional.

Pelo visto ela soube direitinho traçar esse caminho, especialmente aguçando o tempero latino em sua música. Afinal, o reggaeton “Envolver” vem com aquele molho  que abre mais portas internacionais,  permite maior projeção, retorno financeiro e uma roda que gira só no sentido do acréscimo de parcerias e da globalização de sua música. Autenticidade, determinação e direcionamento de carreira que confirmam Anitta no rol das estrelas da música latina.

Fotos: Reprodução