De volta aos palcos juntos, no show “140 Graus” , Baby do Brasil e Pepeu Gomes celebram encontro repleto de música e elegria
Por Claudia Mastrange
Uma relação de amor e parceria que rendeu muita história, música boa, seis filhos e já deixou sua marca na MPB. Assim é a trajetória de Baby do Brasil e Pepeu Gomes. Quando os dois se separam, em 1988, ela ainda era conhecida como Baby Consuelo. Hoje, 34 anos depois, o ex-casal e hoje amigos volta a se unir e brilhar nos palcos com a turnê 140 Graus, cujo nome é inspirado na soma das idades de ambos, que completaram 70 anos em 2022.
E a próxima parada dessa aventura a dois é no Rio de Janeiro, onde a dupla se apresenta na casa de show Vivo Rio, em 13 de agosto. Mas o primeiro show da turnê foi em solo baiano, atrás do teatro onde Baby encontrou Pepeu pela primeira vez. Ali foi o ponto de partida de 140 Graus, em um show lotado na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador.
“Esse show é um grande encontro, um encontro inédito onde prevalece o amor, a amizade, a alegria de nos reencontrarmos. Estamos trazendo um grande legado e também trazendo coisas novas”, diz Baby, animadíssima com o projeto. “O propósito desse show é mostrar para as novas gerações quem são Baby e Pepeu, e presentear o público com um trabalho precioso de canções que ainda estão muito vivas e muito atuais”, afirma Pepeu.
E não é pra menos! Esse é o primeiro show completo dos dois juntos, na história, e focado no repertório autoral e registrado no álbum Baby e Pepeu Ao Vivo no Noites Cariocas, lançado pela Musickeria, em parceria com o selo Noites Cariocas Discos, e já disponível em todas as plataformas de streaming. “Esse show foi criado para ser uma festa, uma comemoração, uma experiência”, define Baby do Brasil.
Com mais de duas horas de duração, o show enfileira hits autorais das carreiras de ambos e inclui algumas homenagens a grandes ícones da MPB como Dorival Caymmi, Moraes Moreira e Tom Zé, entre outros. As 12 faixas do álbum são o coração do show eletrizante que reúne sucessos como “Masculino e Feminino”, “Deusa do Amor”, “Telúrica”, “Mil e Uma Noites”, “Menino do Rio”, “Samba da Minha Terra”, “Tudo Blue”, “A Menina Dança”, “Planeta Venus”, “Todo Dia Era Dia de Índio”, “Acabou Chorare” e “Seus Olhos”, entre outros!
É a primeira vez que os artistas dividem o palco todo o tempo e focam nas canções de suas autorias. Apoiados por uma banda de 10 instrumentistas, Baby e Pepeu elevam a temperatura como o nome do projeto sugere – “140 graus”, que soma não somente os 70 anos de cada um, mas suas experiências e legados musicais.
Baby fala sobre a emoção de embarcar nessa viagem musical com o parceiro de uma vida: “Nós cantarmos juntos, fazermos um show inteiro juntos pela primeira vez nas nossas vidas, é um presente para os nossos fãs”, afirma, no que é complementada pelo pensamento de Pepeu, que estende esse legado para muito além do palco. “E isso também representa muito para a nossa família, para a nossa história”, sentencia o músico.
Sucessos e homenagem a grandes nomes
A ideia é desembarcar em várias cidades do Brasil. Depois do Rio, será a vez de São Paulo, em 3 de Setembro, no Tokio Marine Hall. A turnê é a oportunidade histórica para os fãs presenciarem um encontro de gigantes.
E com toda essa trajetória fantástica, ao longo de tantos discos, palcos e parceiras, como escolher repertório para esse show icônico? “Selecionar o repertório do show foi uma tarefa árdua. Temos tantas músicas de sucesso que não caberiam dentro de um único show. As 18 músicas focam nos nossos sucessos, mas também são uma homenagem a nomes como João Gilberto, Tom Zé, Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Luis Gonzaga”, explica Pepeu.
Lendas da música popular brasileira, Baby e Pepeu tiveram seis filhos. São pais de Sara Sheeva (que nasceu Riroca), Zabelê, Nana Shara, Pedro Baby, Krishna Baby e Kriptus Rá. Em julho, Baby reuniu essa trupe para celebrar a chegada dos seus 70 anos em família. A cantora reuniu os filhos e o ex-marido, em um jantar comemorativo. Depois participou de uma live com uma das herdeiras, a pastora Sarah Sheeva, para falar da nova idade.
“Estou achando tão maravilhoso esse negócio dos 70. Estou me sentindo com 12 anos. Porque eu posso comer aquela lata inteira de brigadeiro, leite condensado… Estou com muito mais gás de quando eu tinha 30 anos”, disse ela nas redes sociais, mostrando seus tradicionais cabelos coloridos em azul e rosa. “Respeite ao menos os meus cabelos coloridos (risos). Toda essa energia com 70 anos e cabelos coloridos, com três netos”, ressaltou animada.
Baby falou com carinho da relação com Pepeu Gomes, que participou do jantar com a atual mulher. “Agora, uma amizade incrível de novo com o pai delas, novamente, somos irmãos, a família só anda junta”, comemorou. Pepeu completou seus 70 anos muito bem vividos em fevereiro.
A vida pessoal é recheada de histórias, como aquela em que foram, barrados na Disney, segundo reza a lenda, por conta do visual extravagante. Os funcionários argumentaram que eles poderiam chamar mais atenção que as atrações. O incidente virou música de sucesso: “Barrados na Disneylândia”, tudo com a pegada de humor e sacada rápida do casal.
“Nós somos filhos de muitas músicas incríveis”
A vida musical também tem é coisa para contar, e vem numa crescente desde a participação do grupo “Novos Baianos”. Os cantores assinaram grandes canções e trilharam carreiras individuais de sucesso. Suas obras, carregadas de poesia, elementos da natureza, cenários mágicos e clima de paz & amor, transcenderam o tempo e atravessaram gerações.
“Nós somos filhos de muitas músicas incríveis, músicas que trazem felicidade, alegria, mudanças de paradigmas. A música pra nós é uma missão”, diz Baby, com a autoridade de quem vê, ano após ano, suas canções embalarem trilhas de novelas, romances, histórias pessoais e de todo legado da música brasileira. Quem não lembra, em 19 de abril, de cantar que “Todo dia era dia de índio”. Quem não lembra das aventuras dos personagens da novela Roque Santeiro quando ouve “Sem Pecado e Sem Juizo”? São temas simplesmente inesquecíveis.
“Temos músicas de sucesso que passam ótimas mensagens para as pessoas, que dialogam com todas as faixas de idade, inclusive as crianças. Faço músicas para emocionar, arrepiar, trazer emoções e recordações”, diz Pepeu, tentando explicar o inexplicável: a música que encanta diversas gerações e se eterniza no coração dos fãs.
Donos de carreiras fantásticas, que somente quem ajudou a escrever a história de nossa música pode contar, Pepeu e Baby são como “máquinas do tempo”: ouvi-los e vê-los em plena atividade, fazendo o que sabem com maestria, é o que podemos chamar de presente para qualquer amante da música brasileira.
Uma dupla que faz história na MPB
Ela nasceu Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade, em Niterói, no Rio de Janeiro, em 18 de julho de 1952. Primeiro, tornou-se Baby Consuelo e hoje, Baby do Brasil. Cantora e compositora, Baby vem e uma família de classe média alta e criada na cidade do Rio. Começou a cantar e tocar violão ainda na infância, inclusive vencendo um festival de música em Niterói aos 14 anos. No aniversário de 17, fugiu de casa, rumando para Salvador. Morou embaixo de pontes na cidade e disse ter avistado seu primeiro disco voador nessa época. Pouco tempo depois,participa de um filme do cineasta italiano Giuliano Gemma, passa um período em São Paulo, outro de volta ao Rio e ingressa no grupo Novos Baianos.
Foi em 1969 que os caminhos de Baby e de Pepeu Gomes se cruzaram. Eles se conhecem e o músico se junta à trupe musical. No ano seguinte, é lançado o primeiro disco dos Novos Baianos, “É Ferro na Boneca”. Pouco tempo depois, a banda e seus agregados mudam-se para um sítio/comunidade hippie no interior do Rio de Janeiro e, em 1972, é lançado o disco de maior sucesso da banda, “Acabou Chorare”. Baby e Pepeu permanecem no grupo até sua primeira separação, em 1978, iniciando suas respectivas carreiras solo no mesmo ano.
Seu primeiro grande sucesso solo, a canção “Menino do Rio”, aparece no seu segundo disco solo, Pra Enlouquecer, em que Baby aparece posando ao lado de quatro filhos na época: Riroca (que viria a trocar seu nome para Sarah Sheeva), Zabelê, Nana Shara e Pedro Baby. Os quatro tornaram-se músicos, e as três garotas formaram a girl-band SNZ, que fez sucesso moderado. Baby ainda daria à luz a outros dois meninos: Krishna Baby (que aparece na contracapa do disco que leva o nome da criança, de 1984) e Kriptus-Rá (presente na capa do álbum Sem Pecado e Sem Juízo, do ano seguinte).
Pedro Anibal de Oliveira Gomes nasceu em Salvador, em 7 de fevereiro de 1952. O guitarrista e compositor Pepeu Gomes, é considerado pela revista americana Guitar World como um dos dez melhores guitarristas do mundo e da América Latin. Ele aprendeu a tocar violão ainda cedo em sua cidade natal. Aos onze anos ingressou em uma banda, chamada “Los Gatos” e, aos quatorze anos, participou da banda “Os Minos.”
Depois do sucesso com os Novos Baianos, integrados também por Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, Galvão e Baby Consuelo ele partiu para a carreira individual . No final da década de 1980, voltou-se para a música instrumental, participando de festivais de jazz e lançando, em 1989, “Instrumental On The Road”.
Nos anos 90 dedicou-se mais a seu trabalho como guitarrista, relendo velhos sucessos como os chorinhos “Brasileirinho” (Waldir Azevedo) e “Noites Cariocas” (Jacob do Bandolim), presentes no início de sua carreira e que fizeram sua fama de virtuose. Também enveredou por um estilo mais pop, com o lançamento de “Meu Coração” em 1999, e agora volta aos palcos, em grande forma aos 70, com Baby do Brasil. Imperdível.
Fotos: Dario Zalis