Cristiana Oliveira celebra a boa fase, com lançamento de livro e em paz com o espelho e a maturidade
Por Claudia Mastrange
Atriz e empresária, Cristiana Oliveira começou a carreira como modelo, mas explodiu para a fama, ao interpretar a Juma Marruá, na primeira versão da novela “Pantanal”. Ela conta que a interpretação, puramente intuitiva, foi acontecendo aos poucos e com uma sintonia sem igual. “Quando eu pisei lá e comecei a andar pelo mato descalça, vestida com a o figurino da Juma… E gostava de onça, já gostava de felinos e via fotos e comecei fazer um olhar desconfiado. Aí acabei criando a Juma, né? Me identifiquei com ela”, diz Cristiana, que chegou a ser escalada para interpretar a Muda.
A trajetória de atriz começou em 1990, quando, vista num comercial, foi convidada pelo diretor Jayme Monjardim para a TV Manchete. Fez a novela “Kananga do Japão” e, em seguida, a Juma Marruá, de “Pantanal”, que fezi imenso de sucesso e virou um marco da teledramaturgia brasileira e de outros países onde foi exibida, conferindo à atriz vários prêmios. O remake é também um grande sucesso, com Alanis Guillen no papel da personagem Juma.
Em 1992, foi contratada pela Globo, para ser protagonista da novela De Corpo e Alma, com Tarcísio Meira e fez papeis principais, inclusive de vilãs – a Adriana (Salsa e Merengue) e a Alicinha (O Clone). Sua estreia no teatro, em 1993, foi com Bate Outra Vez, vista por mais de 60 mil espectadores; nos palcos, vem interpretando personagens marcantes em comédias e tragédias clássicas, como Tróia. No cinema, destaque para “Porque Você Não Chora” e “Eu Sou Brasileiro”.
Hoje, aos 58 anos, Cristiana tem realizando palestras pelo Brasil a respeito de empoderamento, relacionamento e autoestima e segue investindo na carreira de empresária. Se tornou sócia de marca de cosméticos profissionais para cabelos, D’Bianco, além da sua marca C.O cosméticos.
Lançou, recentemente, sua biografia, “Versões de uma vida”, pela editora Letramento. Na obra, conta sobre sua vida, suas passagens, seus desafios, as brigas com o espelho e sobre sua prisão interna. “Queria transformar a história da minha vida em uma obra que desperta o leitor para o resgate da autoestima e o fim da incessante busca por aceitação. Este livro é um convite para não só relembrar a minha trajetória como atriz, mas acima de tudo também é um convite para, independentemente da idade, vivermos de uma forma mais leve do olhar externo!”, adianta a atriz.
Cristiana conta um pouco mais sobre o lançamento, a vida e a carreira, nesta entrevista à Mais Rio de Janeiro.
Você começou como modelo e depois brilhou nas telas… Foi convidada para viver a Muda e pediu para ser Juma. Imaginava aonde ela iria te levar? Como trabalhou a composição?
Não eu não imaginava que isso tudo ia acontecer. Foi realmente uma grande surpresa pra mim. Na verdade fui aprovada pra fazer a Juma. Depois que me chamaram pra Muda e eu pedi para fazer a Juma. No final das contas acabaram aprovando. Eu, muito feliz, fiz pela beleza da personagem. Tive uma identificação ali com a personagem que não tem explicação racional. Foi um sentimento, realmente eu me identifiquei com a Juma. Acho que talvez naquela época eu tivesse muita coisa da Juma e não percebesse Então talvez tenha sido por isso que a Juma fez tanto sucesso: porque eu me identifiquei com ela e não me preocupei em fazer sucesso, fracasso. Eu simplesmente me apaixonei pela personagem e fiz. Fiz da de uma maneira intuitiva e a composição foi muito natural. Na verdade não houve nenhuma ajuda, no sentido de ‘ah vamos trabalhar o texto’. Nessa época nem tinha isso foi muito mais de intuição. Quando eu pisei lá e comecei a andar pelo mato descalça, vestida com a o figurino da Juma. Me olhei no espelho, vi que aquele meu cabelo era muito de modelete, partido de lado, aí parti no meio. E gostava de onça, já gostava de felinos e via fotos e comecei fazer um olhar desconfiado. Aí acabei criando a Juma, né? Então houve uma composição, assim, não complicada, não trabalhada. Foi tudo muito intuitivo. E realmente eu não tinha ideia de onde essa personagem ia iria me levar.
Quando percebeu que a personagem era um sucesso e como foi o assédio naquela época?
O assédio foi muito grande, né? Mas eu já contei isso em várias entrevistas que foi uma surpresa pra mim porque passei nove dias no Pantanal. A gente não tinha antena parabólica. O gerador era desligado umas dez da noite, acho. Umas sete horas da noite eu estava dormindo, então não tinha noção. As pessoas diziam que a novela estava sendo sucesso e tal, mas eu não sabia. Quando fui pra São Paulo tinha um monte de gente, centenas de pessoas esperando a gente. Eu não lembro quem eram os atores que estavam comigo. Acho que era Marcos Palmeira, Marcos Winter. Não sei, foi alguma coisa assim que eu via, uma gritaria. Fui às bancas e vi que era capa de todas as revistas, revistas assim, não de moda, né? Mas essas revistas que falavam de televisão e tal. Eu tinha feito fotos de divulgação, mas não sabia pra onde iriam essas fotos. E de repente eu era capa de tudo quanto era revista. Então, falei, meu Deus, o que é que está acontecendo? E daí foi. Mas graças a Deus tive uma educação em que sempre tive os meus pés no chão. Então nunca me deslumbrei. Nunca. Nem naquela época.
Como entender o sucesso do remake de Pantanal, 30 anos depois?
Olha eu acho que a história do Pantanal ela é atemporal porque mexe com a essência do ser humano, com bem e mal, com amor com do amor e questionamentos políticos e sociais, principalmente nessa época, né? Em 2022 existe uma abordagem e uma discussão através dos diálogos das personagens. É muito bacana que o (autor) Bruno Luteri colocou. Então eu acho que é um todo. Em memória emotiva que as pessoas tem do Pantanal de 199º, essa temporalidade que eu te falei da história, a importância do Pantanal como bioma, atrair a atenção das pessoas para a importância do bioma, da conservação da nossa biodiversidade . E os atores são muito bem trabalhados, muito bem estruturados, numa história linda. Então realmente o sucesso é muito grande assim. É uma outra novela, dentro de uma mesma novela, entendeu? E eu torço muito e fico feliz com sucesso, merece.
Você atuou na Manchete, Globo, fez teatro, ganhou prêmios como o APCA, viveu vilã, mocinha, fez comédia…Todo esse crescimento profissional ajudou a fortalecer sua autoestima, que na adolescência havia sido abalada?
Olha eh é óbvio que quando você vê o seu trabalho sendo reconhecido e você recebe aplausos por ele, recebe uma aprovação por ele naquele momento a tua autoestima fica elevada. Só que eu acho que lidar com a autoestima e equilibrar a autoestima tem muito a ver com o seu dia a dia. Como você se identifica como pessoa e como você aceita. E se aceita né? Apesar desses momentos pontuais, em que recebi esse aplauso e essa aprovação, no meu dia a dia eu não tinha uma autoestima equilibrada. Eu tinha uma baixa autoestima porque se eu não recebesse aplauso por algum outro motivo, pela minha vida pessoal, ou se eu não recebesse a aprovação do outro… Acho que isso tem a ver com vaidade, né? Se eu não recebesse um elogio de alguém dizendo que eu era bonita ou que eu era uma pessoa bacana, ou que eu era uma pessoa inteligente, que eu era uma pessoa assim assado, eu me sentia pra baixo. Então o meu problema de autoestima ele durou até o início da minha maturidade. Eu acho que até depois dos quarenta e pouco aí eu ainda tinha essa vaidade de precisar da opinião do outro pra me validar. Então nessa época eram em momentos pontuais que a minha autoestima se elevava.
Verdade que uma ex-professora de balé clássico, que disse que ela precisaria “cortar os ossos” para ser bailarina? Como buscou apoio para desconstruir essa afirmativa?
É verdade que uma professora de balé falou que eu tinha que cortar os ossos. Eu era muito pesada porque, primeiro, eu era muito alta né? Desde os dez anos de idade eu tinha um metro e setent. Com 14/15 anos, que foi quando eu parei de dançar, já tinha um e setenta e quatro mais ou menos né? Então normalmente as bailarinas eram magrinhas e baixinhas pra poder fazer o Pas de deux e tal.Só que eu não enxergava isso eu simplesmente amava dançar e aí essa professora. quando eu falei que o meu sonho era fazer um Pas de deux, que era uma dupla né, um homem com uma mulher. Ele teria que me levantar. Obviamente que eu jamais conseguia fazer isso que eu iria derrubar o meu parceiro. E aquilo ali me fez me olhar no espelho e falar: gente eu sou imperfeita. Porque até então eu não ligava. Imagina, não estava nem aí. Eh pelo até achava esquisito quando as minhas irmãs mais velhas reclamavam de alguma coisa. ‘Ah estou acima do peso, estou gordinha, estou isso ou aquilo. Nunca prestei atenção nisso em mim, nem nos outros, eu sempre fui uma pessoa muito desligada, eu nunca julguei ninguém, mesmo nova. Então, quando a minha professora falou uma coisa dessa, achei que tinha a ver com o meu peso. Falei assim, ‘não, peraí, tem alguma coisa errada’. E aí eu comecei realmente a me olhar no espelho e perceber defeitos que até então eu não tinha percebido. Essa afirmativa isso se tornou um trauma né pra mim. Eu fui desconstruindo ao longo dos anos, mas eu acho que desconstruir cem por cento foi na entrada da minha maturidade, depois dos quarenta. Porque isso se tornou um vício na minha cabeça que era ser sempre magra. Eu tinha que ser sempre magra, eu não me aceitava acima do peso.Aquilo me causava uma depressão, uma ansiedade e eu não entendi o porquê e eu me achava péssima e eu não queria sair de casa e enfim.Foi um negócio que me assolou durante muitos anos e era quase que imperceptível.Eu até tinha alguma consciência, mas não conseguia aplicar no meu dia a dia, né?
Essa trajetória é a base do seu livro, “Versões de Uma Vida”? Fale um pouco sobre essa obra. A menopausa foi um impulso para escrever?
A menopausa foi um gatilho pra eu começar a escrever esse livro sim, na verdade comecei a escrever, eu sozinha e quando eu tinha 52 anos. Foi quando eu entrei na menopausa. Engordei quinze quilos, já existia internet, já existia comentários das pessoas e eu comecei a ser muito questionada porque eu tinha engordado. Porque, né, eu estava envelhecendo.E aí fiz uma pergunta pra mim pra mim mesma: ‘Cristiana, como que você tá enxergando tudo isso?’ E eu comecei a rir dessa história. Ri, não numa forma de ironia. Eu comecei rir de que eu estava finalmente aceitando os meus defeitos e algumas circunstâncias de uma forma bem humorada. Eu estava com senso de humor lidando com aquelas coisas. Então ali naquele momento eu falei: ‘você amadureceu’. Porque você realmente começou a enxergar essas coisas e começou a ligar o foda-se. Desculpa. A gente pode substituir por outra palavra, mas ligar o dane-se, entende? De falar, não, eu não me importo. Eu tenho os meus problemas, eu tenho as minhas limitações. Eu tô envelhecendo mesmo, fato. Se me cuidar eu vou me cuidar porque quero, porque tenho vontade, mas não ligo mais pro que os outros acham de mim. O meu empresário já tinha me estimulado a escrever um livro. Eu comecei escrever, mas comecei num momento em que eu comecei a rir de mim mesma e comigo mesma. Então foi isso, né? E conto essas histórias todas que eu estou te contando. No livro também falo de todo esse problema meu com obesidade, né? Anorexia, bulimia, vigorexia numa outra época, que quer dizer viciada em malhação e tal, eu conto toda a minha trajetória da forma mais verdadeira e natural possível.
Como tem sido a receptividade nos lançamentos?
A receptividade nos lançamentos está sendo muito boa. Eu já lancei em cinco cidades. As pessoas estão indo me prestigiar e comprando o livro e gostando. Estou recebendo um feedback muito positivo porque não é um livro intelectual, não é um livro que deve ser considerado como uma grande literatura, minha intenção não é essa. A minha intenção na verdade é quem ler e se identificar, que bacana! Eu fico muito feliz. Mas, de repente, tem gente que só quer saber minha trajetória, acompanha a minha carreira há muitos anos e quer saber um pouco mais da minha vida e ali está a minha vida até hoje. De uma forma muito sincera. Então, eu tô gostando muito do feedback das pessoas. Realmente a gente tá com uma venda muito bacana. O livro e é isso.
Hoje lida de forma mais leve com as mudanças do corpo e o envelhecimento, natural a todos nós? Como tem se cuidado?
Lido muito bem com o meu envelhecimento, meu amadurecimento né? Porque acho que ‘velho’ é uma coisa pejorativa. Velho é uma coisa murcha é uma coisa ultrapassada. E eu acho que o amadurecimento é uma coisa muito bacana. A gente vai mudando o corpo, tem mais flacidez, mais rugas, mais isso, mais aquilo.Mas a gente se trata, pode até retardar isso um pouco. Eu lido bem. Pelo contrário, eu acho que eu me olho no espelho hoje e me gosto uma mulher de 58 oito . Estou muito bem pra minha idade, quer dizer, no sentido de que eu acho que aos 70 eu vou estar muito bem. E vou estar muito bem pros 80 porque eu me cuido de dentro pra fora .Porque não adianta nada você ter paliativos, lançar mão de tecnologia e tal, se você por dentro não se cuida, não tem uma boa alimentação, não faz exercícios físicos, não toma água, entendeu? Então se cuide espiritualmente, mentalmente… Ultrapassar o sentido físico parente. A gente às vezes exala uma energia, uma leveza que faz da gente muito mais bonito do que uma pessoa esteticamente bonita. Mulheres e homens. Nós vemos que são pessoas lindas por fora, mas que você começa a conviver e desanima porque aquela pessoa não tem caráter. Ou amo uma pessoa chata, uma pessoa insuportável, uma pessoa tóxica. Não adianta ela ser bonita, ela pode abrir portas pela beleza dela. Ela pode atrair num primeiro momento, mas depois disso não vai conseguir manter.
Fala sobre sua atividade empresarial… Como caminhou para o mundo dos negócios?
Há quatro anos e meio eu entrei como sócia numa marca profissional que trabalha com distribuidores e esses distribuidores.Eles vendem para salões de beleza uma marca profissional. E há dois anos a gente criou uma marca popular. Que é pra para distribuidores também, mas a gente vende no varejo, que é a C.O Cosméticos. É um mundo que sempre me fascinou e do qual sempre fui adepta. E é nunca colocar os ovos na mesma cesta. Eu uma pessoa de investir em outras áreas. Então, como eu acho que a carreira de ator é muito instável, pois às vezes você tem trabalho, às vezes você não tem…. Eu não quero e não vou ser uma pessoa que dependa só de ser atriz. Hoje em dia. Porque antigamente a gente tinha até um conforto financeiro,, porque os contratos eram longos, se renovavam quase que automaticamente. E hoje o contrato é por obra. Então, se você não está trabalhando na televisão, você está no teatro, no cinema e tal e às vezes você não está em nada. Está num ano sabático. E quero ter conforto nesse período meu aonde eu não estou exercendo o meu ofício principal, que é ser atriz. É uma outra vertente minha. Ser empresária. Então eu faço a comunicação. Não a comunicação marketing. A comunicação interna com os meus clientes que é uma relação muito próxima. E adoro. No momento estou fazendo o lançamento do meu livro, fazendo palestras. Então eu não estou tendo tempo hábil pra isso? Pra estar empresária. Mas adoro esse ambiente corporativo dentro da minha pouca experiência. Acho que eu aprendo muito, faço muitos cursos tops. Então acho que hoje entendo um pouquinho.
Mulher, mãe, avó… Qual o lugar da família hoje em sua rotina e como conciliou com a vida profissional?
Pois é a sua mulher, mãe, avó, profissional..O lugar da minha família é o primeiro lugar. Mas as minhas filhas estão grandes, né? E meu neto já está com nove anos. Então eu moro com elas e com o meu neto quando eu estou no Rio. Com o meu marido quando eu estou em São Paulo. Então nós temos duas casas, a minha vida fica entre Rio, São Paulo e o resto do Brasil. Por causa de trabalho. Mas elas já estão adultas. Se elas fossem novas aí a coisa ia complicar, mas adultas elas se viram muito bem. Mas a gente está sempre contato todos os dias e quando eu estou no Rio a nossa qualidade dos nossos encontros é muito bacana nós somos muito cúmplices.São três mulheres e um menino.E meu marido também. Então eles estão sempre em primeiro lugar. Digo seguinte: qualquer coisa que a minha família precise de mim, eu largo todo o resto pra estar com eles. Mas a gente tenta equilibrar porque são duas meninas que trabalham também, meu neto estuda, meu marido também trabalha e eu trabalho. Então a gente obviamente se equilibra. Mas elas, meu neto e meu marido são a minha vida. Eu não vivo sem eles. Eles são a minha luz, eles são meus alicerces. Então e graças a Deus, com a maturidade ,hoje tudo é muito mais equilibrado do que há muito tempo atrás.
Quando olha para trás, acha que poderia ter feito algo diferente? E o que vê quando se olha no espelho?
Olha quando eu olho pra trás eu acho que a única coisa que as únicas coisas que eu talvez mudaria é é não ter perdido tanto tempo na minha vida sofrendo por coisas bobas coisas fúteis, sem sentido, sofrendo por pessoas que não mereceram.E ter cuidado melhor da minha alimentação, da minha cabeça e tal. Eu não me arrependo de nada, porque acho que a vida da gente é como tem que ser, né? O curso nosso é como tem que ser, das minhas dores. Acho que eu aprendi até dos meus momentos de fraqueza e fracasso, foi onde eu aprendi a levantar e aprendi a viver. Mas é óbvio que se a gente tivesse aquele multiverso, né? E que eu tivesse um que voltasse ao passado, pudesse ver o universo, eu talvez aproveitaria mais a minha vida, curtiria mais a natureza, sofreria menos, enfim. Agora, com relação a corpo, com relação acho que não me arrependo de nada; definitivamente não mudaria nada. Eu não mudaria nada porque senão eu não estaria aonde eu estou. Eu não estaria feliz com quase sessenta anos como eu estou agora. Talvez fosse diferente. Então acho que não. Deixa.A cho que minha vida tinha que ser do jeito que foi. Como ela é do jeito que ela está sendo.
Fotos: Jonathan Giuliani
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