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Rio de Janeiro / Cotidiano

Por Claudia Mastrange

O nome dela é Fátima, a nossa Fafá, mas o sobrenome bem que poderia ser emoção. Integrante da equipe de jurados na nova temporada do “The Voice+”, Fafá de Belém encanta o público não só por suas análises certeiras em relação à participação dos candidatos no que diz respeito a técnica vocal e domínio musical, mas também por falar sempre com o coração.  Ela se identifica com as histórias, volta e meia vai às lágrimas e procura conciliar a empatia com a precisão que um jurado precisa ter. É uma atração – maravilhosa – à parte.

Fafá recebeu com muita alegria o convite para participar do programa.  Eu acho o ‘The Voice+’ maravilhoso porque você não pode levar em conta a aparência dos candidatos e é sempre surpreendente. Às vezes tem uma voz com frescor de 40 anos e é uma mulher de 80 anos. Então isso é tão genial porque é o exercício da canção e as pessoas estão se permitindo quebrar os preconceitos, limites que a sociedade impõe e foram atrás de suas vidas, seus sonhos”, destacou  a cantora, em entrevista ao GShow TV Liberal.

Com 47 anos de carreira, Maria de Fátima Palha de Figueiredo está sempre se reinventando.  Fafá de Belém é uma das maiores expoentes da cultura e musicalidade do Pará, com sua voz potente, sua gargalhada inconfundível seu carisma único.  É uma das artistas mais conhecidas no Brasil, que, cantando música popular brasileira apresentou também clássicos paraenses, ganhando reconhecimento mundial. Seu sucesso é enorme inclusive em países, como Portugal, onde tem casa há cinco anos.

Agora, nesse novo desafio de sua carreira, Fafá se confessou, além de empolgada, muito ansiosa e emocionada por estar entre grandes nomes da música nacional, por estar em um ambiente que respira, fala e sente música. Ela revelou que quando recebeu o convite só pensou que queria estar lá, que queria fazer parte do ‘The Voice +’ e que a relação com os outros técnicos tem sido incrível. Afirmou que Lud [Ludmilla] é a sua mais nova amiga de infância e que está ensinando a paraense a dançar funk.

“Coração bombando, muito emocionada! O coração não para, né? Cada vez que eu paro para lembrar da semana que eu vivi, de histórias que eu ouvi, dos candidatos que eu vi… Fico imaginando como vão ser cada uma das apresentações, cada uma das rodadas. Muita emoção!”, disse  em outra entrevista.

E o que é preciso para capturar a atenção e o coração dessa diva da MPB? Me arrepiar e ter afinação. Não existe para mim, cantor dizer que afinação é ‘old school’, pra mim isso é desculpa de quem não tem ouvido. Para cantar, alguém fez aquela música, aquela melodia, alguém escreveu aquelas notas e as notas têm de ser cantadas”, explicou Fafá, sempre muito sensível mas também bastante exigente.

“A gente fica de costas, nas cadeiras, não recebemos qualquer orientação, isso é importante dizer, e então no decorrer das apresentações vamos virando. Eu viro a cadeira quando a emoção me faz arrepiar os pêlos do braço, então, quando eu me arrepio e as notas estão todas lá, eu viro a cadeira. Eu tenho que virar para ver quem é o dono dessa voz, quem chegou até a minha alma de uma forma tão direta, quem me fez sonhar, quem me fez me emocionar a ponto de me arrepiar! Aí eu viro!”, contou

Os concorrentes também foram uma surpresa mais que positiva para Fafá. “Eu fiquei muito impressionada com a qualidade dos candidatos. Não tem ninguém brincando ali. Não tem ninguém fazendo presepada. Todo mundo está ali levando a sério a música, na alegria, na emoção e no prazer de cantar. O que mais me emocionou nessa primeira rodada, e acredito que continuará me emocionando, é o envolvimento de cada candidato com a música, com o tempo que eles cantam, com a tranquilidade de ter a idade do mundo e o mundo na voz.”

A técnica do grupo em geral também mantém o sarrafo alto. “É maravilhoso. como é um público mais velho, não tem excesso de melismas, que eu não gosto. Quem canta há mais tempo gosta da música por cantar. O vibrato tem que ter um delicadeza e uma espontaneidade e isso você vai ganhando com o estar dentro da música, não é só técnica”, explicou.

Fafá também revelou que música escolheria para cantar no palco do ‘The Voice +’ caso fosse uma candidata ao programa. “Eu cantaria “Caçador de Mim”. É essa busca que faz com que a gente continue buscando quem nós somos, o que a gente quer cantar, o que a gente quer dizer para o mundo e o que a gente quer dizer para a gente”, diz ela sobre a canção de Milton Nascimento que foi entoada, já na fase das batalhas, pela candidata Ninah Jô.

Se pudesse dar um conselho para  os participantes, ela compartilharia um aprendizado que recebeu no início de sua carreira e que carrega até hoje. “Siga seu sonho, diga não ao que te violenta, se jogue no que você acredita. O não você já tem, corra atrás do sim”, deu a dica.

Histórias de superação

A cantora ao lado dos parceiros de júri no “The Voice+”, Carlinhos Brown, Ludmila e Toni Garrido

Se deparar com histórias de superação e realização de sonhos dos candidatos do programa também tocou muito a cantora e afez recordar passagens da própria carreira. “As histórias que se ouvem lá são maravilhosas, desde mulheres que deixaram de cantar por causa de maridos que não queriam que elas cantassem, até outras que o namorado novo disse ‘por que você não canta mais?’, e então ela voltou a cantar, assim como um senhor que a vida cerceou muito os sonhos dele e a filha o inscreveu no programa. Tudo isso é um filme para a nossa geração”, disse Fafá.

E cada um que vai ao palco falar de sua vivência, faz a cantora viajar no tempo e nas memórias de tudo que viveu e a fez chegar até aqui, com todas as suas dores, sonhos e conquistas. No segundo dia das audições às cegas, ela relembrou sua trajetória na música. Contou que tinha outros planos, mas um amigo a levou para o sucesso.

“Eu faço agora 48 anos de carreira com muita alegria e muita felicidade. E eu devo essa carreira a um cara chamado Roberto Santana. Foi ele que me tirou de Belém e me chamou pra ser cantora. Eu nunca pensei em ser cantora, eu queria ser psicóloga”.

E Roberto passou dois anos insistindo que o destino de Fafá era cantar. Assim, ela acabou gravando “Filho da Bahia”, que entrou na trilha da novela “Gabriela”, estouro de sucesso da Globo. “Foi uma explosão, e um bando de gente começou a me procurar. Eu era uma menina. Eu não tinha nem 18 anos ainda, e o Roberto disse assim: ‘O que é que você quer para a sua vida? Você quer um sucesso ou você quer uma carreira?”.

Ela  lembra que perguntou se os dois não eram a mesma coisa. A emoção foi tanta que Fafá não segurou as lágrimas, durante o programa, ao revelar a resposta dele: “Para o sucesso você faz tudo, cede tudo, dá uma sorte, te espremem como uma laranja e não existe o próximo passo. Numa carreira você vai levar porta na cara, as pessoas vão deixar de estar com você; quando você não acerta o sucesso absoluto, vai sumir gente e você vai aprender a dizer ‘não’. Daqui a 40 anos você vai poder olhar pra trás ter orgulho do que você construiu. Eu tenho orgulho do que eu construí”, declarou, emocionada.

Visibilidade para os cabelos brancos

Durante uma das apresentações, de Emílio Seresteiro, suas declarações bombaram nas redes sociais, por Fafá falar sobre a importância dos talentos a partir dos 55/60 anos de idade. “Nós temos que lembrar ao mundo, ao Brasil principalmente, que nós temos mais de 60 anos vivos. Nós temos muita coisa pra dar. Nós temos um aprendizado imenso” diz ela, que tem aparecido de bengala na telinha, por conta de uma pequena cirurgia na coluna.

A cantora ficou emocionada com a história do participante que cantou ‘Laura’, Emílio Seresteiro. Coincidentemente o nome da neta dele e da sua também. A questão do etarismo tem tocado demais a cantora., de 65 anos. “É preciso que o Brasil tire das pessoas com mais de 55 anos a capa da invisibilidade, nós somos visíveis, temos desejos, sonhos, temos experiência e temos vida. E temos muito pra ensinar”.

Ao assumir seus cabelos brancos, a cantora chamou a atenção logo na estreia do “The Voice+” e o seu visual conquistou o público. Na web foi comparada á heroína Tempestade e tem colecionado elogios. Desde quando parou de pintar o cabelo e começaram as notícias sobre isso, Fafá recebe muitas mensagens de mulheres dizendo que a cantora deu força pra que elas se deixassem viver a plenitude da idade.

“A gente se esconde, se prende, se molda às expectativas que os outros têm de nós. Então, eu realmente acho que esse movimento que eu fiz no meu corpo fez com que pessoas se inspirassem. E que bom que eu pude ser esse vetor da liberdade para tantas mulheres”.

Fafá conta que há uns quatro ou cinco anos queria deixar o cabelo branco. “O meu cabelo é de índio, expulsa a tinta. Estava tendo de pintar de sete em sete dias. Viajava com aqueles sprays, que são ótimos, para refazer a raiz no meio das turnês. Quando começou a pandemia, tinha passado um mês viajando sem pintar”, contou ela em entrevista ao portal GaúchaZH, lembrando que o processo acelerou quando ela foi rodar o filme “Pai em Dobro”, de Thalita Rebouças. “Era para eu usar uma peruca, e ali comecei a tirar a tinta. A pandemia deu cabo do resto. Gosto do cabelo como está, mas cresce e alguns são escuros (risos). Voltei a usar vinagre de maçã para limpar bem os fios e uso xampu roxo. Testei cinco marcas até chegar à que ficou bacana no meu cabelo”, diz a avó coruja de Laura e Julia, filhas de sua filha única Mariana Belém.

Dedicada integralmente ao “The Voice +” no momento, Fafá já andou dando espoiler do que vem por aí em breve, em termos de novos projetos. “Eu vou aproveitar para gravar algumas canções e jogar no ar! Tem uma surpresa aí que eu vou botar a voz”, disse  logo no início do programa.  Recentemente revelou que gostaria também de fazer a ópera urbana Leontina das Dores, de Luiz Coronel. “Conta a história dessa menina dos Pampas desde 11 anos. O crescimento dela, a paixão, o casamento, o filho, a separação e ela pelo mundo. Queria mostrar essa Leontina, essa mulher pampeana para todo o Brasil, nas palavras de Luiz Coronel e nas canções de grandes autores gaúchos”.

Certamente não faltam boas histórias para Fafá contar, cantar e encantar seus fãs no Brasil e pelo mundo afora.

Fotos:  João Miguel Junior e João Cotta/TV Globo