Músico virtuoso e ator consagrado por sua atuação em “Pantanal”, ele comemora o sucesso e fala sobre os projetos da carreira
Por Claudia Mastrange
Momento especial é pouco para definir o que tem vivido Gabriel Sater. O músico e ator, herdeiro de talento de Almir Sater, foi um dos destaques do remake de Pantanal, a trama das nove, de Benedito Ruy Barbosa, com adaptação de Bruno Luperi, que arrebatou o Brasil nos últimos meses. Na pele do peão Trindade, papel já interpretado pelo pai na primeira exibição, Gabriel encantou o público com seu talento e sua música. “Ainda não acredito em tudo o que estou vivendo. Nunca recebi tamanha explosão de amor”, diz.
Intérprete com voz marcante, instrumentista virtuoso, compositor versátil, arranjador, pesquisador e produtor musical, ele nasceu em São Paulo em 1981, mas foi criado em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
O jovem artista usa como inspiração a convivência desde a infância com a família absolutamente musical e com nomes como Renato Teixeira, Sergio Reis, Família Espíndola, Paulo Simões, Guilherme Rondon, Dino Rocha e seus tios Rodrigo e Gisele Sater.
Com 21 anos de carreira, o artista traz na bagagem 4 CDs e 01 DVD lançados, mais de 100 composições criadas, parcerias com grandes nomes da música como a com Luiz Carlos Sá (da dupla Sá e Guarabyra), que já deu origem a mais de 30 canções, além de atuações em novela global, como “Meu pedacinho de Chão”, teatro musical e cinema.
Gabriel Já se apresentou em grandes festivais, ganhou diversos prêmios e indicações, e emplacou músicas em trilhas de novelas, filmes, séries e programas de TV.
Conheça um pouco mais desse violonista que conquistou o país com eu talento e sua música, nessa entrevista à Mais Rio de Janeiro
Como foi o convite para a Pantanal?
Em setembro de 2020 vi a notícia de que iria acontecer o remake. Então fiquei com muita vontade de fazer o teste para o papel de Trindade mesmo, que foi interpretado pelo meu pai. Para mim seria um sonho poder viver o personagem na nova versão. Nessa época eu já iria procurar a emissora para fazer a renovação rotineira do cadastro que tenho lá. Falei com a produtora que tinha vontade de fazer o teste para o Trindade. E, em dezembro de 2020, o teste veio para mim.
E aí foi foco total nesse desafio né?
Olha, e eu ia viajar em lua de mel para Ibitipoca. Eu e Paula estamos juntos há 16 anos, mas naquele momento ia mo dar uma respirada no trabalho e viajar. Cancelei tudo para me preparar para o teste. Pensei: ‘quero isso mais que tudo’. Cheguei a emagrecer 14 kg nessa preparação, porque na pandemia estava em casa, e pesado, desmotivado… E o teste foi uma virada nessa chave.
E quando recebeu a resposta, como foi?
A resposta só veio em 12 de fevereiro, dia do aniversário do meu avô. Ai foi um misto de muita alegria por essa conquista e também um certo medo da responsabilidade. Liguei para a equipe, que contratou o João Gaspar para me ajudar com essa construção musical. Ele a Paula cunha e Erika Altimaia, o time da Indomável Produções Artísticas, me ajudaram muito nessa preparação. Foi uma base muito importante para o trabalho.
E tudo deu muito certo né? Em todos os aspectos artísticos…
Sim, porque além da parte da dramaturgia, havia também o lado do virtuose. Eu sou violonista e não violeiro. A viola foi um desafio a que me dediquei muito. E foi tanto que acabei compondo 8 músicas instrumentais para a viola, que devem render um novo álbum. Gravei também quatro clipes no Pantanal. O mais recente foi minha nova versão de TURUNIÑO (além de “Amor Marruá”, Arabescos”e “Amor de Indio”) disponível em todas as plataformas digitais!. Agradeço demais a todos os envolvidos nesse projeto, o resultado foi maravilhoso.
Fora isso “Amor de Índio” foi escolhido para tema de Juma e Jove
Nossa, isso foi sensacional. Fiquei muito emocionado quando a direção da novela escolheu esse arranjo para a trilha sonora, principalmente para o casal Juma e Jove. Muito gratificante ver o sucesso e o espaço que essa versão ganhou nas plataformas.
E como foi a receptividade por parte do elenco e toda a equipe nesse novo desafio…?
Nossa, foi tudo maravilhoso. Nem sei como descrever. O Marcos Palmeira, nosso José Leôncio, era realmente o nosso líder, mesmo sem querer ser. A gente criou um elo que ultrapassa as telas, nem dá para explicar.
E você fez algum tipo de adaptação?
Eu fui para o Pantanal quase dois meses antes de começarem as gravações, 53 dias antes, para ser mais exato. Eu queria estar longe da cidade, longe de tudo, fazer uma imersão naquele universo … Esqueci a lua de mel, encarei a saudade que viria, claro, mas foi muito bom. Fui levando uma mudança para a fazenda do meu pai, que era a cerca de uma hora do local de gravações, distante cinco ou seis horas da cidade. Foi um momento de calmaria, de renovação, de tomada de consciência do impacto de toda aquela movimentação para o bioma local. E foi fundamental isso, para construção do personagem, incluindo o trabalho na lida dos peões e o estudo musical também, com meu pai. Um belo professor né?
Fora a imersão do local, você buscou que outras fontes de inspiração para viver esse ‘cramulhão’ que conquistou o país? Soube que procurava se proteger.
Sim, buscava minha proteção … Vi muitos filmes também, praticamente todos os dias. Produções como “O Exorcista”, ‘Drácula de Bram Stocker”, “O Bebê de Rosemary”, uma sequência mais recente, como “Invocação do mal”.. Eu já gosto do gênero suspense. Vi muitas coisas, e até algo da primeira versão de “Pantanal “. Mas queria mesmo era fazer algo original. E foi bacana que, o que parecia um personagem pequeno, cresceu bastante. Foi surpreendente de certo modo, mas a gente sempre espera o melhor… A gente se dedica para que isso aconteça.
O saldo foi mais que positivo né?
Sim, mas também resultado dessa dedicação exclusiva… Foram cerca de 21 meses mergulhado nesse processo, vivendo só para isso. Só retomei a agenda de shows já agora, na reta final. Uma dedicação quase exclusiva.
E já surgiram convites para novos trabalhos?
Alguns sim, mas agora também estou priorizando a música. Mas fiz há pouco um trabalho bem legal, um misto de ator e apresentador, na série “Mitos Vivos, Lendas Brasileiras”, que tem uma narrativa muito diferente. Fiquei muito feliz de participar. A produção desfila um incrível repertório de lendas brasileiras. E eu nunca tinha trabalhado como apresentador. Adorei porque cresci no ritmo de Monteiro Lobato, todo esse universo. Um salve especial para o diretor Flávio Flecha, aquele profissional da cultura de guerrilha, que faz acontecer. São 13 capítulos que valorizam o folclore, a cultura nacional.
O que andamos precisando né?
Sim, sem dúvidas, e é sensacional! Foram 22 km viajando gravando em Fernando de Noronha e outras locações fantásticas sobre lendas como Saci Pererê, Curupira. Espero que todos gostem e que tenha uma segunda temporada.
Algo mais de dramaturgia?
Fui convidado para viver Jesus na clássica Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. Senti muito, mas não vou conseguir conciliar coma agenda. Novela ainda não…E também preciso descansar porque o ritmo é intenso demais e agora estou retomando a música.
Como considera ter participado dessa explosão de sucesso que foi Pantanal e com esse personagem que deixou sua marca?
Só sinto ima gratidão imensa por ter podido viver tudo isso. São 22 anos de carreira e já passei por muitos caminhos, mas agora, veio esse presente. Já tive muito reconhecimento, mas com Xeréu Trindade tudo ganhou uma dimensão absurda.
Você falava abertamente que gostaria que, diferente a versão original, Trindade continuasse na novela…E assumia estar triste por se despedir do personagem. Foi muito difícil?
Nossa..eu senti muito. Foi muito difícil me despedir, mas entendo que foi seguido o desfecho original. É algo que nunca vivi. Confesso que chorei muito ao me despedir do Trindade.
Como foi a primeiro show, já estando em cena no país inteiro na pele do Trindade?
Foi em Caçapava. A minha primeira vez tocando depois do inicio da novela, a céu aberto, foi lá, para 22 mil pessoas. Uma festa maravilhosa . Nunca vivi essa explosão de amor tamanha, uma energia positiva imensa só me abastecendo de carinho. Estou muito feliz, muito grato mesmo. E estou recebendo isso diariamente.
Houve alguma situação engraçada ou curiosa que aconteceu com você, nesse contato agora maior com os fãs?
Olha, viajei para fazer as ultimas cenas e naquela espera do aeroporto, pensei : “vou estudar um pouquinho”. Olha, fiquei simplesmente duas horas e meia atendendo as pessoas! Mas não me incomodo jamais.. Todo mundo feliz, querendo saber do ‘cramulhão’ e uns muito zangados comigo porque o Trindade estava tratando mal a Irma (Camila Morgado) e já outros querendo saber o que iria acontecer depois de ele ir embora…Muito legal essa troca!
Nunca tirei tanta foto, fiz minha primeira presença vip! (risos) É muito revigorante ter esse retorno. Espero poder sempre retribuir com muitas músicas, muito amor, tudo o que tenho recebido.
A música é mesmo sua grande paixão né?
É preciso muita dedicação e muito amor nesse caminho, precisa ser um apaixonado porque senão é muito difícil seguir. Eu chegava de alguns show e ficava tocando, para relaxar (risos).
Quantas horas ensaia por dia, em média?
Treino no mínimo seis horas por dia. Tem que se dedicar mesmo, para manter a agilidade, e também se aprimorar no instrumento. Como já disse, domino o violão, então, para “Pantanal”, tive que me dedicar muito à viola. Mas é tudo muito prazeroso.
E com o fim da novela, como esta a agenda?
Bem, antes da pandemia eu estava preparando um show para comemorar 20 anos de carreira. E agora, pós-pandemia e pós-novela, estou na estrada com o show “Noites Pantaneiras, comemorando 22 anos de carreira profissional. Neste domingo (09/10) chego ao Qualistage, no Rio, com o concerto “Do Clássico ao Pantanal”,com o maestro João Carlos Martins e a Orquestra Bachiana Sesi SP.A ideia é sair em turnê com esse espetáculo e também gravar um audiovisual. João Carlos Martins é ícone e tive a honra de chamá-lo para compor a abertura de “Amor de Índio”, que embalou o romance de Juma e Jove.
Você é Embaixador do Pantanal pela WWF-Brasil.Como é ter essa responsabilidade?
Olha, em 1991 tive a honra de conhecer esse bioma. Eu ficava lá, nas férias, na casa do meu pai. Uma paz absurda, um ambiente em que eu renovava meu amor á família e sempre com muito respeito àquele lugar. Ter sido anunciado como embaixador só me faz bem. É maravilhosos poder participar de ações em prol do amanhã e para construir algo melhor para o futuro. Muito triste ver como hoje o Pantanal esta seco. A devastação por que passa a Amazônia, tudo é afetado.
O Trindade tinha sua princesa, e a sua Paula, é tratada como majestade também? Você é romântico? A lua de mel vai rolar ainda?
Olha, somos casados já há 16 anos e a gente estava naquela batida de muito trabalho. E agora, mais ainda né? (risos). Estávamos há muitos anos sem férias e sem perceber! Mas agora também não vamos conseguir, mas está ótimo. A gente se ama muito, se respeita, conhecemos os detalhes um do outro. Ela é minha rainha. Minha princesa, minha ’tudo’ (risos).
E respeito é fundamental em todas as relações né?
Se é! É preciso muito mais hoje, é tão importante viver com respeito. Nosso caminhada por aqui é tão rápida e as pessoas brigam à toa, deixam de se falar por nada…A gente deixa de evoluir por falta de compreensão com o outro.
Antes da explosão em pantanal você tem uma boa trajetória como ator, inclusive com sendo premiado como Melhor Ator por “Coração de Cowboy”.
Sim. Essa produção ganhou mais de 20 prêmios. Sensacional. Foi um trabalho que me exigiu muito. Teatro musical também é quase uma maratona olímpica.
Quando percebeu que a música, inicialmente, era seu destino? Sendo filho do Almir, tentou buscar outros caminhos?
Tentei me enganar um pouco, até fiz alguns cursos… mas ou era trabalhar na fazenda ou o música mesmo. E meu pai me apoiou. Então comecei a estudar 12 horas por dia, me dediquei para valer e fui fazendo a minha base. Meu pai nunca me deu moleza. Em 2006 gravei meu primeiro CD. O segundo disco, lançado em 2009 – “A Essência do Amanhecer”, foi o meu primeiro CD autoral e traz temas instrumentais e canções com letras que celebram a vida, o amor, os sonhos, a natureza e a amizade. Foi produzido por meio do respeitado “Prêmio Pixinguinha Produção – Funarte”, do qual fui vencedor em 2008. Esse prêmio mudou minha vida. Foi um divisor de águas. Foi aí que me mudei para São Paulo e abracei de vez a música.
Lá atrás disseram que você devia fazer uma música ‘mais comercial’, mas você nunca mudou sua essência. Que dica você dá para quem está nessa estrada musical?
O mais importante é entender e seguir a sua verdade artística. Equilibrar tudo que você acredita, sua essência. Nesses 22 anos de carreira tive conselhos de pessoas que nem são do meio, mas sempre ouvi tudo. Diziam que eu ‘não ia acontecer’. Mas cada um dá o que tem. O que eu posso dar é a minha música, o meu melhor, o que está no fundo do meu coração. Tento fazer disso a minha melhor versão, a minha verdade.
Foto: Julia Costa, Tadeu Bara e Erich Sacco