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Rio de Janeiro / Cotidiano

Por Claudia Mastrange

Cantada em verso em prosa, a  eterna ‘Garota de Ipanema’ Helô Pinheiro encara a maturidade com determinação e gratidão pela vida. Belíssima aos 76 anos, ela enfrenta uma batalha contra um câncer de tireóide e, na semana em que Vinicius de Moraes completaria 108 anos, conversa com a Mais Rio de Janeiro sobre as conquistas que ter sido uma das musas do Poetinha lhe proporcionou, sua paixão pelo Rio, o amor pela família, o trabalho e a fé que a move em busca da cura.

Heloísa Eneida  Paes Pinto Mendes Pinheiro, ou apenas Helô Pinheiro, nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de julho. Modelo, atriz, empresária, jornalista, apresentadora de TV, bacharel em direito, tornou-se célebre por ter sido a musa inspiradora de Tom Jobim e Vinicius de Moraes para a canção “Garota de Ipanema”, que projetou a MPB internacionalmente. A canção foi composta quando Tom Jobim e Vinicius de Moraes viram a jovem Helô, com apenas 17 anos, no bairro de Ipanema indo a caminho do mar.

A letra foi interpretada, desde sua composição em 1962 até os dias de hoje, em português, inglês e vários outros idiomas pelos mais diversos e afamados cantores Internacionais, a exemplo de Frank Sinatra, Cher, Madonna,  Amy Winehouse, além da banda de rock Sepultura e outros grandes  artistas brasileiros. Uma versão instrumental virou tema do filme Garota de Ipanema, de 1967. Através de um fã, Helô recebeu mais de 600 versões da canção em países jamais imaginados.

Na TV, Helô apresentou o programa feminino Ela, na Band, na década de 1980, Show da Tarde no SBT, The girl from Ipanema no canal 42 Miami, Helô Pinheiro na Rede Mulher, Rio Mulher na CNT Rio. Apresentou Código de Honra pela rede de televisão TV Justiça e o De Cara Com a Maturidade, na Band. Ao lado da filha Ticiane Pinheiro, comandou também o Ser Mulher, no canal Fox Life. Atualmente apresenta o programa Alô Helô, todos os  sábados, às 22 h, na Com Brasil TV, onde recebe convidados como músicos, médicos, personalidades em geral para um bate-papo descontraído e informativo.

No comando do programa Alô Helô (Foto: Divulgação)

Como atriz, Helô atuou nas novelas Cara a Cara na Band, Água Viva e Coração Alado na Globo, Meus Filhos Minha vida no SBT e na novela Aquele Beijo (2011) de Miguel Falabella. Fez também participações na Dança dos Famosos do Domingão do Faustão (2009).  E como empresária, detém a grife Helô Pinheiro by Amarras, e no segmento moda praia, a grife Garota de Ipanema, além de se dividir entre Rio e São Paulo para dar conta dos trabalhos.

Em 20 de julho Helô se submeteu a uma cirurgia para retirada de cinco nódulos no pescoço e da tireoide. Ela contou que percebeu que algo estava errado quando começou a sentir calores. Orientada pelo seu médico, fez um ultrassom e foram detectados os nódulos. “Quando a médica falou que era um carcinoma já me assustou de qualquer forma, ler ou saber dá no mesmo, mas como ela me tranquilizou dizendo: ‘ pode ficar sossegada que você vai se curar’, me deu um pouco mais de alívio”, disse em entrevista ao Domingo Espetacular.

Agora, Helô acaba de se submeter ao tratamento da iodoterapia. Na preparação que antecedeu , não pode usar esmalte, tingir o cabelo nem comer nada que tivesse iodo ou sódio, além de ficar cinco dias em isolamento.  Mas, apesar das oscilações de humor, até por conta da retirada da tireóide e seus hormônios,  ela busca o equilíbrio emocional e mantém a fé e a positividade. Deu uma repaginada no visual após anos e tem o apoio e o paparico total das filhas Ticiane, Kiki e Jô; do Filho Fernando; das netas Bruna, Heloísa, Rafaella e Manuella  e do marido Fernando Pinheiro, com quem está casada há 54 anos. “É só confiar em Deus e seguir em frente”, afirma.

Como é até hoje ser considerada a musa de Vinícius, a eterna Garota de Ipanema e uma referência para o mundo todo? As pessoas interagem muito com você e falam sobre isso?

É um presente poder ser eternizada por meio da música mais tocada no mundo inteiro e ainda mais graças a essas duas grandes personalidades da MPB, que são Tom e Vinicius. Eu me considero privilegiada, por tudo isso. As pessoas sempre querem saber da história, como aconteceu. E eu estou sempre pronta para contar e lido muito bem com as pessoas. Eu sou jornalista, gosto de gente, de comunicação e é importante que a gente não deixe a história fenecer. Não podemos deixar que tudo isso que aconteceu seja esquecido. Então é sempre bom estar atualizando.

– Qual o maior legado do poetinha Vinícius para a imagem do Rio de Janeiro e a sua?

Acho que Vinícius deixou um legado de muitas obras, muitas coisas através de suas canções e na música. Sua obra, como você sabe, é vasta né? E se pode apreciar, não só pela música, mas pela literatura, teatro, cinema. Tudo isso ele fez com carinho, muita dedicação e é super importante que as pessoas acompanhem toda a história de Vinicius de Moraes, que é cativante.

– Como tem enfrentado esse desafio que é o tratamento contra o câncer, e como tem conciliado com suas atividades, como a apresentação do Alô Helô?

Enfrento todos os desafios da minha vida com sabedoria. Logicamente com apoio da família, do marido, dos filhos. E esse apoio é muito importante para que você possa se sentir mais segura. Acho que é mais ou menos por aí.  Acredito que sou focada em tudo que faço e penso sempre positivamente nas situações difíceis. Conciliar tudo nesse processo por que passo, de saúde,  sei que não é fácil. Mas temos que nos adaptarmos para resolver todas as obrigações. É preciso ter cabeça, é preciso ter tranquilidade, concentração. E hoje o sistema eletrônico, a tecnologia muito nos facilitam.

– Volta  a gravar quando o programa Alô Helô?

Eu volto a gravar  o Alô Helô no inicio de novembro e o último que fiz, como faltaram insumos do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nuclear, único a importar o insumo para o tratamento)…. – para iniciar a iodoterapia em setembro, tive a oportunidade de fazer uma gravação, estando na expectativa de iniciar agora em outubro . Mas amanhã (21/10) já estou liberada desse tempo que fiquei confinada e logo, logo, sábado (23/10)  já faço a cintilografia para saber se me curei. Assim sendo, é só confiar em Deus e seguir em frente.

Apoio e chamego total com o marido Fernando Pinheiro, as filhas, Ticiane, Jô e Kiki e o filho Fernando (Foto: Divulgação)

– O que mais ama no Rio de Janeiro hoje, o que poderia melhorar? E que lembranças mais gostosas da cidade tem do seu tempo de musa que ia ‘num doce balanço ‘a caminho do mar’?

Eu tenho muito orgulho de ser carioca. E o que mais amo realmente no Rio  é a beleza que a natureza nos proporciona. Melhorar ? Eu nem sei o quê…. Eu amo tanto essa cidade! Só se for para voltar nos anos 60 quando tudo era mais lindo por causa do amor, como diz a música. Lembranças com sabor de quero mais, sabe? Aquela coisa onde não só o meu doce balanço, mas o de todas as garotas era um gingado natural, sem nenhum artifício, sem nenhuma pretensão de estar muito musculosa. Era aquela coisa de passar… Com a graça, com o charme. Eu acho que era por aí que as meninas inspiravam os poetas. Que pudesse existir novamente esse clima poético. Acho que seria isso.

Como você vê hoje essa nova mulher de 70 anos, que é antenada, plena e em atividade, como você?

Uma nova velha mulher, seria o caso né ? (risos) Eu acho que a vida de hoje nos torna assim guerreiras, temos que estar sempre antenadas, mais em contato com a tecnologia moderna e com as informações  necessárias desse mundo, que nos atualizam… A cada dia é uma novidade. A nova mulher tem que ter bagagem, mas ela não se entrega à preguiça, às coisas fúteis.

-Bagagem e experiência também são combustível para o novo né?

Eu acho que hoje, com a maturidade, nós temos uma dinâmica mais competente, pois temos um passado que a gente busca aprimorar no presente, esperando sempre estar melhor para o futuro. E mesmo que esse futuro agora seja mais  curto do que já foi. Porque temos um passado muito mais longo do que o futuro. Mas aprendemos muito e  podemos dar ensinamentos aos nossos filhos, nossos netos… Então, eu sou uma mulher ativa e não pretendo parar, a não ser que a saúde me impeça. Mas pensando positivamente, se Deus quiser, logo, logo, estarei curada.

O casal com as netas Bruna, Heloísa, Rafaella e Manuella  (Foto: Divulgação)

– O que mais te traz  felicidade e qual seu lema de vida?

O que mais me traz felicidade é ver as pessoas felizes. Acho que, vendo as pessoas felizes você sente um reflexo em você e isso te traz alegria, prazer, conforto. E é por aí. O meu lema acho que é: quem viver verá. E que Deus é o mestre que nos abençoa e  conforta. Então acho que meu lema é acreditar em Deus, olhar para frente e seguir.

– E a musa de Ipanema e do poeta certamente é a musa das netinhas…

Eu estou agora dedicada a responder algumas perguntas de um livro que se chama Vó, me conta a sua história?, que a minha neta Bruna me mandou. É de autoria da Elma Wan Vliet, que tem mais de 4 milhões de livros vendidos. E nesses últimos dois dias eu consegui responder muita coisa – nessas mais de 150 páginas –  para deixar esse legado para as minhas netas. Para que elas possam um dia , quando eu já não estiver aqui, poderem ler um pouco a minha história, alguns lances e as coisas que a gente tem até orgulho de ter feito ou passado. É isso.

Texto revelação da Garota de Ipanema, por Vinicius de Moraes  –  Ano  1965

Seu nome é Heloisa Eneida de Menezes Paes Pinto, mas todos a chamam de Helô. Há três anos atrás ela passava ali, no cruzamento de Montenegro e Prudente de Morais, em demanda da praia, e nós a achávamos demais. Do nosso posto de observação, no Veloso, enxugando a nossa cervejinha, Tom e eu emudecíamos à sua vinda maravilhosa. O ar ficava mais volátil como para facilitar – lhe o divino balanço do andar. E lá ia ela toda linda, a garota de Ipanema, desenvolvendo no percurso a geometria espacial de seu balanceio quase samba, e cuja fórmula teria escapado aos egípcios, teria escapado ao próprio Einstein: seria preciso um Antônio Carlos Jobim para pedir ao piano, em grande e religiosa intimidade, a revelação do seu segredo.

Para ela fizemos, com todo o respeito e mudo encantamento, o samba que a colocou nas manchetes do mundo inteiro e fez de nossa querida Ipanema uma palavra mágica para os ouvintes estrangeiros. Ela foi e é para nós o paradigma do broto carioca: a moça dourada, misto de flor e sereia, cheia de luz e de graça, mas cuja visão é também triste, pois carrega consigo, a caminho do mar, o sentimento da mocidade que passa da beleza que não é só nossa- é um dom da vida em seu lindo e melancólico fluir e refluir constante.

Fotos: Divulgação


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