Por Claudia Mastrange
Carioca criado em Santa Teresa, flamenguista, apaixonado pelo Rio e ícone da música romântica no Brasil. Assim é o cantor José Augusto. Como todo brasileiro, ele teve que colocar o pé no freio, inclusive suspendendo a turnê Um Brinde ao Amor, com a qual viajava pelo Brasil, por conta da pandemia do novo coronavírus. E, claro, sente falta dos palcos. “Muita saudade dos shows, da vida que eu tinha antes”, conta nesta entrevista exclusiva à Mais Rio de janeiro. Aos 68 anos, o cantor e compositor segue produzindo e aproveitou a quarentena para curtir muito a mulher, a advogada Bárbara Cristina, e os filhos Cristiano, 44 anos, e Luciano, 40 anos, que trabalham com o artista.
A carreira de José Augusto Cougil Novoa é uma trajetória de respeito. Aos 8 anos começou a estudar no Conservatório Nacional de Música , no Rio de Janeiro, ganhou um piano dos pais, Sophia e Augusto ,e aos 12, um violão. “Tinha certeza que eu queria viver de música”, lembra. Descoberto cantando em festivais e testes de gravadoras pelo produtor Renato Correa – integrante do grupo Golden Boys – , teve sua primeira música, Meu Filho, gravada por Cauby Peixoto, em 1972. “Só por isso, eu já podia me sentir vitorioso. Era um sinal de que estava no caminho certo, que não era perda de tempo”, recorda.
Em 1973, já contratado pela EMI gravou seu primeiro disco oficial com a música De Que Vale Ter Tudo Na Vida, com vendagem de nada menos que um milhão de cópias. De lá para cá, não parou mais. José Augusto já vendeu mais de 20 milhões de discos e assina mais de 400 músicas, com sucessos estrondosos, como Aguenta Coração, Sábado, Fantasias, Chuvas de Verão, Fui Eu, Sonho Por Sonho e Evidências, composição sua em parceria com Paulo Sérgio Valle, que estourou nas vozes de Chitãozinho e Xororó nos anos 90. E que segue bombando na voz de todas as gerações!. Que atire a primeira preda quem nunca se esgoelou no Karaokê ou num momento de sofrência, cantando esse que é considerada um ‘hino’ brasileiro. A canção tocou algumas vezes até nas Olímpiadas de Tóquio, durante jogos da seleção feminina de vôlei. Sucesso que só se renova.
– Que balanço faz desses quase 50 anos dessa linda carreira?
O balanço só poderia ser positivo. Tudo que eu fiz foi bem pensado, estudado, foi feito com amor. Só tenho um balanço positivo desses 48 anos de carreira
– Tem alguma música icônica para você que ainda sonhe em gravar ou alguém com quem sonhe fazer parceria?
Tenho tantas músicas que eu gostaria de gravar… Que não vou citar uma só. São muitas músicas, viu…. É muita gente com quem eu gostaria de fazer parceria. E muita música linda que eu gostaria de ter gravado. Quem sabe um dia consiga fazer um disco com algumas dessas canções.
– Quem são seus ídolos musicais? Quem e o que te inspira?
Eu tenho alguns ídolos musicais. Paul Mc’Cartney, Billy Joe Thomas, que infelizmente foi para o andar de cima, mas eu gosto muito das canções dele. Tem Erasmo Carlos, Roberto Carlos e Wanderléia, que fizeram parte da minha infância com a Jovem guarda. Todas essas pessoas de uma forma ou de outra me inspiraram pra ser o que eu sou. Eu busquei de cada um um pedacinho para desenvolver minha carreira.
– O que acha da música romântica feita hoje, incluindo o gênero sertanejo universitário e a chamada ”sofrência”?
É uma tendência natural das coisas irem se modificando. Passei por várias mudanças. E hoje a música romântica tem as suas modificações. O sertanejo universitário eu gosto bastante. Acho, inclusive, que é uma nova forma de falar de amor. Às vezes bem mais direta. A sofrência para mim não é uma novidade. Acho que desde que comecei a cantar, minha primeira canção De que vale ter tudo na vida, já era uma canção romântica que se poderia intitular como sofrência.
– Que músicas curte ouvir hoje em seu dia a dia?
Eu curto música ouvindo o rádio. E geralmente quando estou ouvindo, ouço de tudo. Tudo que foi sucesso e o que está tocando agora. Tudo que é sucesso hoje, e todos os estilos, sem problema algum. Continuo ouvindo rádio e aprendendo com as canções. Sigo às vezes me inspirando em algum novo ritmo, alguma nova roupagem ou alguma nova ideia para poder melhorar sempre o meu trabalho
– Acha que o mundo de hoje precisa de mais romantismo e amor?
Não sei te dize se o mundo precisa de mais romantismo. Mas com certeza precisa de mais amor. Isso, com certeza.
– Das suas músicas de trilhas de novela qual você até hoje é parado na rua para os fãs comentarem? A novela Sonho Meu está sendo reprisada no canal Viva, com Querer e Poder’… Fale um pouco sobre a importância das trilhas sonoras para você.
A grande maioria das pessoas me param para perguntar de Aguenta Coração, que foi a trilha de abertura de Barriga de Aluguel. Essa é a mais perguntada, a mais comentada… Há essa reprise atual de Sonho Meu, cuja abertura é Querer e Poder, uma canção que tive muito orgulho de fazer e teve muita importância na minha vida. Todas as músicas que eu tive em novelas, tiveram sempre muita importância. Gravo sempre em Português e Espanhol, e às vezes isso me ajuda muito quando a novela é divulgada lá fora, quando é traduzida em outro idioma.
– A música Evidências é um estouro que até hoje o Brasil inteiro canta e virou até o hino dos karaokês. (rs) Vc ‘cansa’ de alguma música? Nos conte um pouquinho da importância desse clássico em sua carreira.
Cansar de uma música minha seria como cansar de um filho… Todas elas têm muita importância pra mim. Evidências é uma que extrapolou. Ela passou pelo tempo e continua sendo muito tocada, muito pedida, principalmente para negociações comerciais, anúncios. Isso no mundo inteiro…Eu sempre acreditei em Evidências, mas jamais imaginei que ela pudesse chegar aonde chegou.
– Como atravessou essa pandemia, o que mais te impactou na sua vida e na carreira neste período? Curtiu a família? Se dedicou a alguma atividade nova, diferente?
A pandemia, esse vírus impactou a vida de muita gente. Impactou aminha carreira, claro, eu não faço shows há quase dois anos. E tenho muita saudade dos palcos e da minha vida anterior e peço a Deus que tudo volte rápido. E que a gente se livre logo desse vírus. Aproveitei muito a minha família, meus bichinhos, meus cachorros que adoro. Convivi mais com meus filhos., com minha esposa… E se a pandemia veio para ensinar alguma coisa para alguém, ela cumpriu o objetivo. Porque não é preciso ser tão inteligente assim para perceber que ninguém é mais do que ninguém e esse vírus veio mostrar isso. Nem os artistas, nem os socialites nem qualquer outro ramo de atividade é mais importante. Ninguém é melhor do que ninguém. E o vírus veio provar isso. Para que a gente aprenda a respeitar um pouco mais o nosso próximo.
– Fale sobre a parceria com Fabio Junior…Tem planos para shows.? O Brasil amaria ver essa dupla de ícones da música romântica.
Essa parceria com Fábio foi muito legal. Uma canção que fiz em homenagem à minha mulher. Mostrei para ele e ele decidiu gravar comigo. Ficou maravilhoso. A música, Um Brinde ao Amor é o nome do show que vinha fazendo antes da pandemia, e com o qual devo continuar quando retomarmos. Não existe uma possibilidade de show juntos. Embora haja muitos convites, mas não há essa possibilidade, ao menos por enquanto. Mas essa parceria me deu muita alegria e o Fábio é um cara extraordinário. Sou fã do trabalho dele, assim como o Brasil todo.
– Você é carioca raiz e flamenguista…. O que curte fazer no Rio?
Eu nasci no Rio de Janeiro, em Santa Teresa, onde eu andava no Bondinho, que é uma das coisas mais lindas que o Rio tem. O Bondinho, os Arcos da Lapa, onde eu convivi boa parte da minha infância; a Rua do Passeio, onde existem os casarões antigos; o Maracanã , onde levei meus filhos sempre que pude, pra ver o Flamengo jogar… Hoje em dia, Grumari, onde eu moro , é um dos lugares mais lindos do rio.
– E costuma ir à praia? O que é mais urgente para um Rio melhor?
Eu gosto de praia, mas tenho frequentado pouco. Principalmente por causa da minha vida agitada. Mas tenho frequentado pouco também por causa dessa incerteza que o carioca tem do ir e vir. Porque a verdade é a seguinte: hoje você não está mais seguro em lugar nenhum. O Rio de Janeiro é uma cidade muito perigosa. E acho que o cidadão de bem merecia mais segurança, mais atenção. E todos os governantes que entram e saem; entram e saem, prometem e não fazem. Isso não é só no Rio de Janeiro. É no Brasil inteiro. A gente precisa de mais educação, para aprender a votar melhor. Colocar no poder, nos cargos chaves, daqueles que dominam, que governam, pessoas mais capacitadas. É isso.
– Como acredita que será a retomada de shows, o reencontro com o público?
A retomada dos palcos vai ser gradativa. A gente não tem como arriscar ainda abrir tudo e voltar ainda normalmente como era. Então vai ser gradativo, por escalas, por etapas, como já esta acontecendo normalmente em alguns lugares e casas de espetáculo. Tudo a seu tempo.
– Que recado daria para seus fãs, que estão loucos para te rever no palco?
O recado para os fãs é o de agradecimento por aquela alegria que sinto quando comentam alguma coisa nas minhas redes sociais, pela alegria que sinto cada vez que recebo no camarim, que encontro… Só tenho a agradecer. Sem esse público, essas pessoas que sempre incentivaram minha carreira, eu não teria chegado onde eu cheguei.
Mestre das trilhas de novela
José Augusto é um dos campeões de trilhas sonoras emplacadas em novelas. São mais de 20 músicas que embalaram romances e aventuras , incluindo aberturas históricas como a de Barriga de Aluguel, com Aguenta Coração, em 1990. A icônica Evidências foi tema de Pérola Negra, e Smile de Os Ricos Também Choram, ambas no SBT.
Uma boa parte delas está no CD e do DVD lançados em comemoração aos 40 anos de carreira de artista. A que abre o disco embalava Avenida Brasil: a Estória de Nós Dois, que ilustrou o romance do craque Tufão (Murilo Benício) com Monalisa (Heloísa Perisée). Tema de Sonho Meu, Querer e Poder, também está no disco, assim como Coisas do Coração (de Beleza Pura), De Igual Pra Igual (Bebê a Bordo), Eu e Você (Tieta) e O Sole Mio (Terra Nostra). E ainda Quem Nega a Luz na Sombra Vai Morrer, primeira a figurar numa trama – Anjo Mau, em 1976.
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