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saúde

Foto: divulgação

Por: Dr. Leonardo Quicoli, médico cardiologista 

  Para muitos brasileiros, o verão é a época mais aguardada do ano. Dias ensolarados, roupas leves, passeios ao ar livre, férias e viagens. Porém, junto com os benefícios da estação vêm também os alertas. O calor e as temperaturas altas provocam mudanças no nosso corpo, inclusive no sistema cardiovascular, que precisam de atenção, especialmente dos idosos, cardiopatas e portadores de outros problemas, como a doença arterial coronária, ou ainda aqueles que já têm alguma predisposição ou fator de risco, entre eles o tabagismo, sedentarismo, obesidade, colesterol alto, hipertensão e diabetes.

  O tempo quente faz com que nosso organismo precise trabalhar mais para continuar funcionando e manter a temperatura corporal em níveis normais, e isto acaba gerando uma tensão extra ao coração, pulmões e rins. Em dias de temperaturas altas, principalmente acima dos 30ºC, o sistema cardiovascular precisa aumentar seus esforços e velocidade de funcionamento para compensar a maior necessidade de energia.

 

Calor vs. coração

  No calor, o primeiro ajuste corporal é a vasodilatação dos vasos sanguíneos da cabeça, mãos, braços, pernas e pés. Há uma grande incidência de inchaço nos pés e nas mãos, até com possível deficiência da circulação venosa nos membros inferiores, ou seja, do sangue que vai para esta região e precisa retornar ao coração.

  Neste cenário, a pressão arterial também sofre mudanças e tende a cair, deixando o sangue mais viscoso e as artérias, secundariamente, mais contraídas. O coração por sua vez passa a bater mais rápido e bombear com força extra para fazer circular uma quantidade maior de sangue pelo corpo e assim irrigar os órgãos que precisam de oxigenação, especialmente a pele, com a intenção de nos esforçar. Para se ter ideia, é possível que circule de duas a quatro vezes mais sangue a cada minuto do que em um dia frio.

  Sem o resfriamento, sofremos com as consequências. Se a temperatura corporal ultrapassa os 38ºC, pode ocasionar febre, acompanhada por muito suor, calafrios e cansaço. Acima de 40ºC, há a hipertermia, com a perda de água e mineral, podendo causar vômitos e desmaios. Em casos extremos, quando o corpo atinge 42ºC, ocorre desidratação, comprometendo os órgãos vitais, e há a possibilidade de coma e até risco de morte.

 

Suor e desidratação

  Quando as temperaturas sobem, a transpiração é outro ponto importante que interfere nas atividades do sistema cardiovascular, adicionando exigências a ele. Isso porque o suor é mais um caminho do nosso metabolismo para regular a temperatura. Uma produção maior de suor pode levar, em situação extrema, à desidratação.

  O suor contém eletrólitos, minerais essenciais, a exemplo do potássio e do sódio, que são necessários para o funcionamento saudável do coração. O suor excessivo durante o tempo quente pode desequilibrar os níveis de eletrólitos, o que pode adicionar uma nova carga de estresse em um coração que já está trabalhando arduamente para nos manter frescos.

  Além disso, conforme o corpo perde líquido por meio da transpiração e da respiração e não tem a reposição necessária, os vasos sanguíneos vão se fechando para manter a pressão arterial dentro do ideal. O sangue fica então mais grosso e a frequência cardíaca aumenta ainda mais.

  Portanto, os cuidados para evitar uma desidratação precisam ser levados a sério: mesmo uma desidratação leve, ou seja, uma perda de apenas 1% do peso corporal, pode causar sintomas como tontura/vertigem, fraqueza, fadiga, desmaio e arritmias cardíacas.

  A exaustão do calor, a insolação e a desidratação têm efeitos danosos. Portanto, é válido aproveitar o sol e o verão, mas sem ignorar sinais do corpo que podem nos colocar em risco e aumentar os riscos de complicações e eventos cardíacos, como o infarto.

 

O calor e o infarto

Como vimos, o quadro de estresse térmico resulta em respostas fisiológicas que levam ao aumento da sudorese, das frequências cardíacas e respiratórias, da espessura do sangue e da vasodilatação. Essas alterações podem causar desequilíbrios no funcionamento do coração, na pressão arterial, provocar uma inflamação sistêmica e prejudicar o processo de coagulação.

  A combinação destas condições, especialmente quando somada a outros fatores de risco, cardiopatias ou predisposição a complicações cardiovasculares, podem desencadear a ruptura de ateroma ou placa aterosclerótica e, consequentemente, um infarto do miocárdio (ou ataque cardíaco, evento que ocorre quando o fluxo de sangue para o músculo cardíaco é subitamente reduzido ou completamente bloqueado).

  De modo geral, o corpo está preparado para lidar com as alterações de temperatura. Toda vez que precisa se adaptar, aciona um sistema chamado homeostase e diferentes órgãos agem em conjunto para manter tudo em boas condições de funcionamento. Quando saímos de altas para baixas temperaturas, o organismo age e redireciona o sangue quente para os órgãos.

Desta forma, ele preserva as funções vitais. Já o coração, passa a bater mais devagar, fazendo a respiração acelerar para aumentar a oxigenação do sangue. Os pelos se arrepiam, criando uma camada que funciona como isolante térmico, diminuindo a perda de calor do corpo para o ambiente. No entanto, apesar de termos mecanismos de adaptação, tanto para altas como para baixas temperaturas – como vimos, os riscos existem.

  É essencial ter em mente que precisamos nos atentar e tomar os devidos cuidados para minimizar o estresse causado pelo calor. Não podemos esquecer que, somado a tudo isso, temos ainda combinações que podem agravar o cenário, como o abuso de alimentos excessivamente gordurosos, ricos em sódio, uma maior quantidade de doces e embutidos, por exemplo, além do consumo de álcool, comuns nesta época do ano, e que podem aumentar o risco de algum problema cardíaco ou vascular.

  Além disso, vale destacar os riscos da prática de exercícios físicos sob as altas temperaturas, especialmente aos “atletas de verão”, aqueles que começam a praticar um esporte com intensidade só nessa época do ano e ficam muito tempo expostos ao sol. O esforço do coração passa assim a ser maior.

  A orientação para os dias quentes é manter-se sempre hidratado, evitar a exposição direta ao sol, principalmente nos períodos mais abafados do dia, praticar atividades físicas pela manhã ou no fim da tarde, consumir alimentos saudáveis e buscar fazer refeições leves, que exigem menos esforço do organismo durante a digestão.

  Outra recomendação é para pacientes que tomam medicamentos, com atenção redobrada para os idosos e aqueles que fazem uso de diuréticos. No verão, como vimos, o calor e a umidade aumentam a perda de água e sais minerais, podendo causar a desidratação.

  Além disso, hipertensos que precisam controlar a pressão, devem ficar atentos à tendência natural do corpo de baixar a pressão com as altas temperaturas, já que o uso de vasodilatadores pode acentuar essa queda, causando hipotensão. Em todas as situações, é importante orientação médica para que cada caso seja avaliado particularmente.