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saúde

Foto: divulgação

Por: Dr. Victor Lunau 

pancreatite é o termo utilizado para designar a inflamação do pâncreas. O pâncreas é um órgão que produz enzimas envolvidas na digestão (pâncreas exócrino) e é também responsável pela produção de hormonas (pâncreas endócrino) como a insulina, fundamental no metabolismo dos hidratos de carbono (açúcares). 

Pancreatite aguda, crónica

A inflamação do pâncreas, designada pancreatite, pode ser aguda ou crónica. Enquanto que as pancreatites aguda e crônica podem ter causas semelhantes, tendem, no entanto, a seguir cursos bastante diferentes.

pancreatite aguda refere-se à inflamação do pâncreas que causa dor abdominal violenta súbita. O processo inflamatório pode envolver os órgãos/tecidos locais ou resultar na falência de órgãos à distância. É uma doença na maioria dos casos ligeira, não resultando em complicações. Numa reduzida percentagem de casos, cursa com um quadro clínico grave sendo acompanhada de falência de órgãos e necessidade de tratamento em cuidados intensivos, podendo resultar na morte dos doentes.
Em todos os casos é fundamental identificar a causa da pancreatite e, se possível, tratar essa causa para evitar a recorrência.

pancreatite crónica diz respeito à destruição do pâncreas pela inflamação de longa data. A inflamação contínua resulta invariavelmente no desenvolvimento de insuficiência pancreática que corresponde à incapacidade do pâncreas funcionar normalmente. Os doentes com pancreatite crônica necessitam de cuidados a longo prazo para minimizar os sintomas (sobretudo a dor abdominal), reduzir a progressão do dano estrutural do pâncreas e resolver as complicações.

Pancreatite – causas

Existem variadas causas de pancreatite aguda, mas 60-75% dos casos são causados por litíase biliar (pedra na vesícula/vias biliares – pancreatite biliar ou litiásica) e pelo abuso do álcool. Pelo facto da vesícula e o pâncreas partilharem uma drenagem comum no duodeno, a obstrução provocada por um cálculo biliar pode impedir o normal fluxo das enzimas pancreáticas e provocar a chamada pancreatite aguda litiásica.

A seguir à litíase, a pancreatite de causa alcoólica é bastante comum, sobretudo em indivíduos com um longo passado de abuso do álcool. 

pancreatite aguda alitiásica pode ter como causas os medicamentos (pancreatite medicamentosa) e distúrbios hereditários como a hipertrigliceridemia familiar (níveis elevados de triglicéridos) e a pancreatite hereditária que geralmente resultam em pancreatite em idade pediátrica (em crianças/pancreatite infantil).

Pancreatite – sintomas

A pancreatite aguda cursa habitualmente com um quadro de dor súbita e constante localizada nos quadrantes superiores do abdómen. Os doentes referem, com frequência, irradiação dorsal (dor em cinturão / “dor nas costas”) e como fator de alívio, identificam a inclinação do tronco para a frente. Em alguns doentes a dor pode ser apenas descrita como ligeira. Nos doentes com pancreatite biliar, a cólica biliar (dor habitualmente pós-prandial, localizada ao hipocôndrio direito, com irradiação dorsal ou ao ombro direito) pode preceder a dor pancreática.

A dor na pancreatite aguda é constante, com intensidade que aumenta gradualmente e é geralmente acompanhada por náuseas e/ou vômitos.

Pancreatite – diagnóstico

diagnóstico da pancreatite aguda pode ser difícil dado que os sinais e sintomas são comuns a outras condições clínicas. Baseia-se na história clínica e exame físico, associados aos resultados dos métodos complementares de diagnóstico, nomeadamente as análises laboratoriais (análises ao sangue) e os exames de imagem. O número e tipo de exames complementares de diagnóstico será adaptado à gravidade da pancreatite e à definição das suas causas. Esta estratégia garante o correto estabelecimento do nível de cuidados, tratamento necessário e a prevenção da recorrência.

Os exames laboratoriais mais frequentemente solicitados são das enzimas pancreáticas (amilase e lipase).Os de imagem servem para avaliar a estrutura do pâncreas (incluindo os seus ductos), as vias biliares e vesícula biliar e as restantes estruturas que rodeiam o pâncreas. A ultrassonografia abdominal é o exame de imagem mais frequentemente utilizado dada a sua acessibilidade e não ser invasivo. Poderá em alguns casos justificar-se a realização da tomografia computorizada  a ressonância magnética nuclear (RMN) ou a CPRE.

No caso da pancreatite crônica os exames complementares podem ser normais nos primeiros anos de evolução da doença o que vai dificultar o diagnóstico. As análises ao sangue mais uma vez, geralmente revelam elevação das enzimas pancreáticas (mas podem ser normais) e as análises das fezes poderão detectar elevação do conteúdo em gordura (em virtude da insuficiência exócrina). Os exames de imagem mais utilizados são a ecoendoscopia, a ressonância magnética e a tomografia.