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Rio de Janeiro / Cotidiano

Quitéria Chagas conta as horas para brilhar como Rainha da Império Serrano, abre o jogo sobre a vida na Itália e sonha com um Brasil melhor

 Por Claudia Mastrange

Quase impossível pensar em Quitéria Chagas, sem associá-la ao Império Serrano.  Rainha da tradicional escola de Madureira, ela hoje mora em Milão, na Itália, e emocionou seus súditos ao compartilhar, nas redes sociais, a tristeza de não ter conseguido vir ao ensaio técnico da escola, em março,  por ter contraído Covid-19. “Vocês lutam daí e a rainha luta daqui para continuar com vocês nesse amor incondicional. Há mais de 20 anos, sempre Império. Amo vocês”, postou ela, que não teve sintomas da doença.

Mas agora falta pouco! Em entrevista exclusiva à Mais Rio de janeiro, a musa, que também é doula e psicóloga, conta como esta se preparando para o desfile na Sapucaí. “Acho que vai ser o maior carnaval de todos os tempos”, vibra ela, que bate um papo franco sobre a vida na Itália, ao lado do marido, o empresário italiano Francesco Locati, e a filha Elena, de 6 anos; fala sobre preconceito, xenofobia; a importância da profissão de doula, psicologia, o que sonha para o Brasil e os planos para esse 2022 pós-pandemia. Confira!

Qual sua expectativa para esse Carnaval, após dois anos de pandemia?

Ah eu creio que vai ser o maior carnaval de todos os tempos. O melhor o mais esperado para e nós colocarmos todas as dores, angústias, tristezas que passamos na pandemia pra fora, né? Que a gente precisa celebrar a vida, a existência e  dar essa continuidade. Resgatar a felicidade,  os brilhos, os sambas e a dança. E todo o cenário artístico a gente poder levantar o público e as pessoas nesse momento de catarse botar pra fora todos os sentimentos do Carnaval. Ele é muito importante pra saúde mental, né? Será incrível! Não vejo a hora de atravessar aquela avenida porque eu também estou com sede e fome de samba, abstinência de samba. Ainda mais que estou do outro lado do mundo. O máximo que eu faço é ensaiar, mas é diferente do contato humano, do calor humano.

 Como está se preparando, inclusive fisicamente para o desfile?

Ah eu estou me preparando fazendo musculação, na medida do possível. Eu sempre faço todo dia, já faço por natureza assim. É o ar que eu respiro fazer atividade física. Exaustivamente. De preferência eu preciso ficar sei lá duas três na academia direto. Sou que nem uma planta e me exercitar é que nem a água, o ar que eu respiro. Eu preciso exercitar e eu sentir meu corpo tonificado, eu preciso sentir, é uma coisa, não é nem pensar social, ninguém pressiona porque a gente já sou adulta. Faço por questão de saúde também. No carnaval intensifica um pouco mais porque são 700 de avenida, né? E gosto de sambar a avenida  inteira, não gosto de ficar caminhando.Sou sambista rainha da escola, bailarina, passista…E as pessoas ficam esperando a performance.  Em 2020 eu desfilei com a lesão no joelho. Na verdade, sem joelho pois estava sem menisco, sem ligamento cruzado anterior, enfim. Várias outras lesões sérias que eu sofri acidente no reality show da Sabrina Sato na Record. Só Deus sabe como é que eu estava lá. Fiz a cirurgia no Brasil do joelho e aí eu fiquei me reabilitando sozinha na Itália, pois veio a pandemia.

 Foi uma tristeza não poder vir pro ensaio técnico por contrair covid-19 né? Esta com algum sintoma?

Oi então eu fiquei muito triste O desfile e o ensaio técnico são os momentos mais importantes assim pra mim. O ensaio técnico ele não é aquele público pagante. Eh que é diferente né? Quando é só o povo mesmo e sem aquela pressão do dia do desfile, acaba sendo mais espontâneo com o povo ali, tem algum magnetismo especial. E toda vez que eu passo, sempre faço meu show de samba pro setor um. Isso é um ritual meu. E eu sinto falta naquele momento do setor um sozinha e o povo gritando meu nome,  querendo aquele contato. O ensaio técnico tem essa finalidade de você fazer tudo certinho pro dia do desfile, é importante. Fiquei muito triste e infelizmente não consegui ir. Porque no dia da do em a ver a resposta do covid deu positivo. Dois anos de pandemia. Nunca peguei aí fui pegar no dia do ensaio, mas enfim acontece, e não tive sintoma nenhum.

Acha que as  pessoas e o mundo aprenderam muito com essa crise sanitária mundial? Depois de tudo,ainda vemos um guerra estourar…

Então eu achava que as pessoas tivessem aprendido nessa crise mundial da pandemia, principalmente aqui na Europa. O lockdown ele foi praticamente prisão máxima em casa por muitos meses, muitos assim muitos você não tem A gente nem ia quase ao supermercado, vivia de delivery por medo de ir. Foi um negócio de louco, sem vida social por um ano.  Sufocante pra saúde mental inclusive. E  a gente via várias coisas acontecendo as pessoas assim com problemas psicológicos e . E eu achando que depois disso as pessoas fossem se tornar um pouco mais humanas e aí vem história essa guerra, né? A gente vê que é uma briga de egos, de disputa, uma coisa até infantilizada. Porque você podia argumentar, ter diálogo mas é um dizendo que tem mais poder e que é estar certo mais importante do que o outro e as pessoas se vis morrendo com essa loucura desse jogo de poder paranoico né na verdade e e aí a gente vê que a humanidade não aprendeu nada. Infelizmente nem com caos desse vírus.  A gente já sofreu tanto e a gente vê que as pessoas não ainda não evoluíram, né? Que bom que o carnaval vem pra poder a gente alegrar e pelo menos parar de pensar nessas ruins.Os seres humanos acabam se autodestruindo. O Carnaval vem trazer, resgatar a alegria que a gente tá precisando.

Como é ser embaixadora do samba pela Fenasamba (Federação Nacional das Escolas de Samba)?

Nossa é uma honra ser embaixadora da nossa a Federação Nacional das Escolas de Samba. Nós lutamos por políticas públicas pra o mundo do samba do Carnaval, os profissionais do Carnaval, as escolas, os blocos carnavalescos. Sou muito nessas questões de lutas sociais, até fiz parte da defesa da lei do dia nacional da mulher sambista que tá tramitando no congresso nacional.  É importante essa lei para poder valorizar nós mulheres de samba. Sou uma pessoa muito militante em relação a profissionalização, principalmente  do cargo de rainha de bateria. Não sou favorável às vendas de posto de rainha de bateria. Acho que é um setor que deve ser mais profissional e deve sempre privilegiar o protagonismo da mulher preta e da sambista das passistas como profissionais no cenário do Carnaval. Resgatar esse protagonismo.

Fale da sua história de amor com o império, que não sucumbe nem com um oceano de distância.

O convite  quando me viram nas , na pandemia, enfim, meu engajamento sobre o Carnaval também, a defesa sobre a importância, a questão do cancelamento do Carnaval, que também teve a questão da saúde, de salvar vidas. Mas também teve uma coisa muito do racismo estrutural, porque acabou que tudo foi liberado menos desfile, né? Mas foi também importante porque a gente respeitou e aí as pessoas entenderam que o Carnaval  segue as normas. Enfim foi um sacrifício, mas foi um sacrifício até que fez com que a sua sociedade nos visse de uma maneira diferenciada. Mas são importantes esses debates, e a gente na FenaSamba discute vários assuntos. Há várias leis tramitando no Senado eh sobre a valorização do  e dos trabalhadores e eu sinto um é uma muita honra fazer parte.Ainda mais que eu sou de uma geração, assim, mais nova em relação aos mais antigos da minha escola. Monha escola é uma das mais tradicionais. O Império Serrano, nasceu em 1947 e teve a primeira mulher que deu voz a todas as mulheres, que é a dona Ivone Lara.

É muita paixão imperiana né?

Ai meu amor com Império Serrano é um grande amor da minha vida né? É um amor incondicional .Eu tenho um amor pela minha filha mas o império eu tenho um incondicional diferente eu não sei explicar o que é. Necessito estar ali, ter contato com as pessoas. Meu telefone parece telefone público porque todo imperiano tem. A gente se fala no Zap, o pessoal da velha guarda também, as baianas passam Zap, nos grupos das torcidas do Império Guardiões do Império Serrano que é outra torcida. O pessoal do Morro tem o meu contato ,eu conheço as pessoas eu gosto de calor humano . Para mim é uma família, fora a minha família pai e mãe é outra família. Eu existo no Carnaval graças a esse povo imperiano, que sempre lutou por mim, por eu estar ali.Entrei no universo do Carnaval sem moeda de troca, eu fui uma rainha, uma pessoa que era passista, né? Dancei nas vinhetas de Carnaval da Globo, né? Com passista. E aí,  fui convidada por três mulheres do império que falaram, poxa, Quitéria, você tem um samba diferente, é a cara do imperiano, vai lá na nossa escola. Fiquei encantada com o Império. Fizeram a militância com a comunidade pra eu poder me tornar rainha de bateria, mas e tinha uma rainha que financiava o cargo. Mas fizeram tanta militância que conseguiram destituir, tirar o cargo dessa pessoa que pagava pra me colocar como rainha. Foi um marco. Então sou dessas militâncias. Eu não tive muita informação da minha raiz. E no samba eu aprendi e aprendo cada dia.Ssinto falta das minhas raízes e as minhas raízes estão no Brasil, tá no samba. Então, quando eu volto pra mim é reencontro do meu amor.

 Quando e porque decidiu morar na Itália?

Então, eu casei, né? E já estamos há uns quinze anos contando tudo, né? E aí nós morávamos no Brasil, a minha filha nasceu no Brasil, eu fiz questão porque eu queria fazer parto natural em casa. Esse momento é único, é o momento mais importante da vida de uma mulher que decide ter filhos, né? É a gestação parto e pós-parto, então eu precisava de me sentir fã num lugar num ambiente familiar e não tinha como me sentir familiar no exterior. Ainda mais quando você está grávida você fica um processo de regressão tem toda uma coisa que você se modifica e tal e aí eu fiz questão de ficar no Brasil. Moramos no Brasil um tempo e decidimos que depois iríamos pra Itália por causa da qualidade de vida. Não tem como você comparar em relação a escola, saúde pública. Tudo aqui funciona . Não tem aquela coisa de ai não pode botar a bolsa na rua, cuidado com a joia, cuidado com o relógio . Porém sinto falta do calor humano, da espontaneidade, da alegria, da felicidade do brasileiro, que não tem preço. Não tem lugar nenhum que tem o que o Brasil tem e a nossa cultura e tal.  Então tem prós e contras, mas a gente sempre pensou nos filhos, né?

Como é sua rotina aí, com família, filha, trabalhos…

A minha rotina aqui é  bem mãe, mulher, a casa… E faço as minhas coisas, cuido de mim, aí tem que ter um tempo meu. Minha prioridade é atividade física. Tem um momento de leitura e tem os meus momentos aqui de casa, família, mãe e mulher. Trabalhos às vezes pinta alguma coisa pra fazer, muito esporádico, mas não é o meu foco não. Por enquanto não. Só quando pintar uma empresa de artístico, né? Porque é difícil você conseguir ser uma pessoa preta que faz samba, né? É um preconceito danado, mesmo sendo famosa, conhecida, enfim, que são as personalidades do samba, elas ainda são excluídas dos gestores artísticos, né?

 Estar cercada de uma família amorosa é uma base sólida pras suas conquistas?

Claro, família é a base de tudo né? E a o amor isso potencializa tudo que eu faço as pessoas que eu convivo é que eu não estou amando e eu não consigo realizar absolutamente nada. É o que me move é o motor, é o estímulo. Então é importante e aí as conquistas elas vem de forma abundante, né? Só crescendo.

Como é a Quitéria mãe?

Quitéria com a filha Elena, de 6 anos

A Quitéria mãe na fase mãe bebê: uma dedicação cem por cento vinte e quatro horas. Anulei  de fato por opção a minha vida social, até no tempo da gestação. Não tinha vontade de fazer nada no mundo externo, sair pra lugar nenhum.Morava em frente a praia na Barra ,u ia pra praia e ficava no meu mundo com a barriga.  E eu tava feliz demais assim, curtindo o momento, não sabia de sair pra lugar nenhum, num usava maquiagem, eu era outra pessoa, estava assim paradona mesmo. Relaxei, não consegui atividade física; eu era outro ser humano. E isso foi muito bom, essa pausa pra esse momento. Ainda mais formada em psicologia, então eu sabia da importância disso, da transformações, do que acontece e tal e você tem que se permitir não rejeitar esse momento. Como eu num dependia de trabalhar para sobreviver, graças a Deus, eu podia curtir. Eu tinha muito sono e pensava: caramba, a sociedade massacra, ela maltrata a mulher, porque nem toda mulher fica cem por cento ativa, grávida, né? Continuo me dedicando, porém eu não sou uma mãe obssessora. Permito que a minha filha ela tenha autonomia. Não  fiz um filho pra ficar agarrado cem por cento comigo. A minha filha ela veio pro mundo, pro mundo mesmo. Ainda bem que ela fica o maior tempo na escola e isso ajuda também a desenvolver mais autonomia. Amo incondicionalmente a minha filha, ela é um amor da minha vida, foi muito desejada e é muito especial.

Você já declarou que o racismo na Itália é ainda maior que em outros países, pode falar um pouco sobre isso?

Nossa o racismo, xenofobia, que tudo é gigante, tudo é macro. Essa semana mesmo, tinham duas mulheres brancas na academia. Eh eu moro na Itália, em Milão, né? Não posso falar das outras regiões, mas Milão, pessoal parece que já acorda meio mal-humorado. Aí eu estava na academia e as mulheres começaram a cair no xingamento uma na outra uma coisa assim horrorosa duas mulheres brancas e teve racismo entre elas, xenofobia. Teve tudo que você possa imaginar. Uma era uma senhora italiana das antigas e ela identificou que a outra não era italiana nata. Aí ela começou a falar, você não é verdadeira italiana, você não é nata. Você é miscigenada você é mestiça, você é um lixo, você é escória,  você não é nobre. E quando eles xingam aqui eles xingam assim pra se destruir, né? E eu olhando aquela cena estarrecida, eu falei cara o que está acontecendo… Comigo aconteceu já no elevador uma vez,mas aí eu tive que falar, olha depois de mim virão outros, virão muitas outras, vai se acostumando. Porque a pessoa falou : ‘você mora aqui mesmo?’. E eu moro no terraço, né? Aí eu falei, eu moro aqui e piso na sua cabeça todos os dias tem hora que você dá um fora.  O racista ele é um doente. Pessoas que não querem contato algum com cultura que não seja a própria né? A cultura do outro desde pequeno eles aprendem que a cultura do outro é o estrangeiro, é o estranho que deve ser excluído.

 O mundo de forma geral ainda é muito racista…avançamos pouco…? A pandemia acirrou ainda mais o extremismo?

Olha com essa questão da guerra eu acho que eu pensei que as pessoas fossem compreender mais né? Ajudou nessa questão de um pouco mais de compreensão, de entendimento até de quem não é negro de pontuar algumas ações racistas. Porém ao mesmo tempo ter aumentou extremismo, eu não consigo entender muito assim a essa a questão adoecida da sociedade, né? Porque aí vem a guerra e aí começa esses extremistas e e essas rivalidades de países, né? Eu tenho fé que vai melhorar porque nós estamos vendo pelo menos um avanço de que nós estamos ocupando mais espaços de poder de fala. Em posições que não estávamos sendo vistos.

Equidade aqui é um negócio que não existe, né? Eu sou o que sou porque eu tenho, porque eu herdei, porque eu sou nato. Eh, tenho minha raiz, minha herança, isso é um eurocentrismo .

Continua sentido o preconceito literalmente na pele? Tipo..é psicóloga ou sambista? Como sente isso?

Eu sou muito bem resolvida nessa coisa eu sou formada em psicologia assim sou sambista mas tem vários sambistas que são doutores tem pós-doutorado.  O Milton Cunha tem pós-doc e tem várias formações; é psicólogo também. Então e acho que isso um tempo a sociedade tinha mais preconceito em relação a isso. Hoje em dia estão entendendo que as pessoas podem ter várias profissões, de várias formações. E nada invalida uma outra né? E e eu já fiz vários atendimentos também. Eu agora parei, pois mesmo se eu quisesse fazer atendimento online, tem a questão do seu horário, é bem complexo.Fiz algumas coisas pra gestantes, que é a área que eu que eu gosto. Me sinto muito feliz, com o samba e a psicologia. Eu sei que em algum momento eu vou focar muito na psicologia, mas eu vou deixar isso mais pra mais pra bem pra frente. Porque eu estou muito dedicada às questões do samba, na valorização da mulher sambista e ao mesmo tempo acabo usando a psicologia nessas coisas também, né? Porque você tem que entender a complexidade humana pra poder atacar a militância e conseguir os seus objetivos .

A psicologia sempre foi uma paixão? Essa formação te ajudou a encarar a instabilidade emocional que a pandemia também espalhou?

Nossa, a psicologia me ajuda sempre na vida. Assim, transtornos, problemas, traumas, preocupações, coisas ruins, negativas na vida, todo mundo vai ter. Até os psicólogos e todo psicólogo tem que fazer terapia. É uma na verdade todo ser humano deveria fazer, o problema é o custo disso, né? Não é algo popularizado a tal ponto de ter um valor que seja cabível pra todo mundo. Enfim, é complexo, porque a sociedade ainda não vê importância, acha que é psicólogo é pra ir quando você tem um problema, quando você tá com um trauma ou tem um problema de saúde mental e não é. Eh seria vocês sempre sei lá, durante a semana, de tanto  tempo que eu tenho que ir porque a gente passa por certas complicações na vida e às vezes cê acaba guardando coisas ruins, negativas e às diz? Na pandemia me ajudou a imensamente, nossa. Ficar presa em casa sem poder sair por meses foi um negócio assim muito assustador e sem você saber o que estava acontecendo, e  tentar orientar filha ou marido.

Nós sobrevivemos, porque tem muito casal que separou nessa pandemia.  né? Também tem isso. E é importante tudo a vida. as coisas ruins, porque o mundo não é perfeito, nós já somos perfeitos e nessa imperfeição a gente tem uma autorregulação, corpo saúde física e mental pra poder se reequilibrar, a vida é isso.

Como se interessou pela profissão de doula? O Senado brasileiro acaba de aprovar a regulamentação da profissão. Qual a importância de tudo isso?

Eu aprendi sobre doula durante a gestação porque eu estava no Brasil em 2015, quando tive a minha filha. Eu engravidei e eu queria ter um parto natural e pelo plano né? Quase uma agulha no palheiro e todo médico falava você é louca. e o médico fala isso? E eu achava o médico mais louco do que os loucos né? Porque você está diante de um profissional de saúde ele não pode agir com senso comum, né? E você? Dizer que um que uma pessoa que vai procurar um parto natural é louco ou , perguntava se eu queria morrer ou ficar com a com a região íntima larga, sabe? Tudo do senso comum, pois não tem nenhum dado científico que que isso é verdade. Então, eu comecei a questionar esses profissionais. E vi a importância das doulas. Aprendi com elas que ninguém faz parto, não é pra ninguém fazer parto, né? Que a gente tem essa ideia ocidental e principalmente do Brasil, né? Que o médico vai puxar o CDB e vai arrancar, porque isso é uma coisa ideal de fantasia, televisiva, cinema, é um imaginário completamente deturpado e que realmente faziam há muito tempo atrás na época da minha mãe e tal, aquela coisa toda, da minha avó. Quando inventaram obstetrícia, não é a invenção da obstituição ela não foi nada saudável .  Na verdade eram homens que foram recrutados pelo reinos porque o rei o rei queria ver seus filhos nasceram, ele queria ser o primeiro a olhar pra cara dos filhos com seu narcisismo.Antigamente a mulher fazia tudo sozinha com as com as parteiras.Isso regou muita violência, traumas, Era tentativa e erro.As doulas  conhecem a fisiologia do parto, ajudam essas mulheres a terem conhecimento científico também, das leis, o que  é violência obstétrica, quais são as coisas que são erradas na medicina.

Fiz parte da aprovação da lei das doulas no estado do Rio de Janeiro. Eu fiz essa militância e o senado aprovando a nível Brasil propaga mais essa importância das doulas, as mulheres resgatam o seu poder. É o empoderamento feminino  resgatado da mulher com ela mesma.

No Brasil, infelizmente cada país tem os seus problemas, vivemos nessa cegueira social nessa bolha que a gente entrega o poder pro outro, na questão do profissional, do parto, da saúde… É importante esse resgate para amenizar, diminuir as violências obstétricas. Acho que toda mulher merece e deve ter uma doula é é tão fundamental no pré-natal , parto e pós-parto quanto o médico obstetra enfim importantíssimo. O casamento perfeito tem os dois.

Pensa em voltar a morar no Brasil? Como vê o momento do país e o que sonha para nossa pátria e os brasileiros?

Não sei,a gente nunca sabe da manhã né? Mas eu não tenho assim essa pretensão porque a vida está aqui consolidada aqui minha filha está aqui, já tá estudando aqui,  bem na escola, enfim, tem todo um uma questão da língua também. A vida também de trabalho, o do meu marido, tá tudo pra cá, né? Eh mas eu sinto falta do Brasil também que é tem uma outra qualidade de vida que é a natureza, a praia. A gente morava em frente a Praia da Barra, enfim o povo mas não dá pra ter tudo. Quero trazer o pessoal de lá pra cá botar a praia aqui mas não dá (risos). Eu espero que o nosso país, pelo amor de Deus, melhore né? Apesar de aqui também não ser cem por cento perfeito tá? Não existe perfeição. Mas espero mesmo que dê certo e que essas próximas eleições, mudem tudo. A gente sempre sonha com isso , porque  o país está indo de mal a pior. Eu amo o Brasil, se eu pudesse eu estaria no meu país também, sabe? Eu bem sendo bem sério sinto muita falta. Tanto que quando eu vou assim eu fico louca. Porque eu estava com muita saudade. Mas eu tenho a questão da família e a vida está pra cá. Então não dá pra você. Tem outras escolhas né? Outros objetivos.

Voltar a atuar está nos planos? A novela “Páginas da Vida” está em reprise por aqui. Assiste? 

Ai que maravilha a gente voltar a atuar, eu sinto falta sabe? Eu queria muito voltar. Vai que acontece algum projeto alguma coisa que seja possível né? A gente nunca sabe. Eu não fecho portas, eu não fecho a vida porque a vida está sempre aberta e sempre  se transformando. Bom saber que “Páginas da vida” está reprisando! Ai aqui eu acabo não conseguindo assistir, às vezes me mandam um  link, tem coisas da Globoplay que não passam aqui. Ai, nossa, eu era tão novinha… Foi a primeira vez que uma rainha de escola de samba fez uma novela? Fui convidada pelo Manoel Carlos, já era atriz formada, mas tinha que na época aquele preconceito por ser sambista. Ninguém me chamar fazer teste porque era sambista.Verbalizei isso na imprensa Manoel Carlos viu  e me convidou pra fazer o teste. Eu passei e fiquei muito feliz. Aprendi muito, eu era muito nova. Queria muito atuar novamente realmente porque a gente vai crescendo, e tendo autoconhecimento e a atuação vai melhorando também. Importante essa vivência. .

Quais seus projetos para 2022?

A única coisa que passa na cabeça de projeto é Carnaval. Eu estou louca pra pegar o avião e partir pro Brasil. E e lógico eu sempre tento ver uma empresa de agenciamento artístico pra tentar fazer mais trabalhos no Brasil, poder ir mais vezes. Mas ainda tem essa barreira social do preconceito em relação à personalidade que faz Carnaval que eu acho que talvez agora com esse impulsionamento, essa viralização da Mayara  (Lima, princesa da Paraíso do Tuiuti, que ganhou as manchetes sambando em sincronia com a bateria) possa abrir o olhar o leque, né? Pra ver esta mulher do Carnaval que é rainha, que é passista, que é sambista, como potencial de mercado. Agora acho que o povo entendeu. Está passando de oito milhões de visualizações, não é possível! Ela realmente revolucionou. E graças a Deus surgiu nesse momento de construção social histórica, de viralização, rede social, isso é uma outra época. É importante para transformar a sociedade, fazer que nos olhem de uma forma diferente, que nos olhem vendo o valor artístico e como seres sociais, como todo mundo.

Fotos: Eliane Mac Diotti e Reprodução Instagram