Psicóloga, paisagista e mestranda em Ciência da Sustentabilidade
Nesta coluna, vamos destacar artigo do advogado tributarista, professor, agroinfluencer e empresarista especializado em Direito do Agronegócio, Manoel Mário de Souza Barros, presidente da ALAGRO (Academia Latino Americana do Agronegócio) e diretor do Agronegócio da CIN (Câmara Internacional de Negócios).
“A ILPF (Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta) diz respeito a uma estratégia de produção agropecuária que engloba diversos sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área. Pode ser feita em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, de forma que ocorra benefício mútuo em todas as atividades como um conjunto.
A ILPF é um projeto sustentável, visto que novas tendências do setor do agronegócio apontam para um maior interesse desse setor no que diz respeito à sustentabilidade e a importância da preservação agroambiental. As práticas de sustentabilidade relacionadas ao agronegócio englobam ações de preservação ambiental nas atividades agrícolas, e também a implantação de novas tecnologias e metodologias sustentáveis nas atividades do campo, sendo hoje a ILPF fundamental para a sustentabilidade no setor do agronegócio e o aumento da produtividade.
A ILPF além de vir com a base moderna e inovadora da criação da sustentabilidade dentro da agricultura tropical foi inaugurada pelo ex-ministro da agricultura Alysson Paolinelli na década de 1970 onde a agricultura tropical sustentável é hoje a verdadeira integração da lavoura-pecuária-floresta que é modelo para o mundo inteiro, inclusive levando o nome do ministro Alysson Paolinelli para ser indicado para o prêmio Nobel da paz de 2022 pelo setor rural, e até então esse prêmio só foi entregue há mais de 50 anos para o engenheiro agrônomo norte-americano Norman Bourlaug, desde então a cúpula do prêmio Nobel da paz não mais indicou nenhum nome relacionado ao setor rural.
Com isso, sistema ILPF visa otimizar o uso da terra, aumentando a produtividade em uma mesma área, usando de forma eficiente os insumos, diversificando a produção e gerando mais renda e emprego. Tudo isso, de maneira ambientalmente correta, com baixa emissão de gases causadores de efeito estufa ou mesmo com mitigação desses gases.
No que diz respeito a variedade de culturas, os sistemas ILPF podem ser adaptados para pequenas, médias e grandes propriedades, em todos os biomas brasileiros. As características do sistema adotado dependerão de condições edafoclimáticas da região, logística, relevo, mercado, aptidão do produtor, disponibilidade de mão-de-obra, de assistência técnica, entre outros fatores.
Entretanto, mesmos que os sistemas de ILPF sejam considerados sistemas inovadores, na Europa desde a idade média são conhecidas várias formas de plantios associados entre culturas anuais e culturas perenes ou entre culturas frutíferas e árvores madeireiras. Sistemas integrando árvores frutíferas com a produção pecuária datam do século XVI, e aparentemente uma das causas do seu quase desaparecimento foi a mecanização e a intensificação dos sistemas agrícolas, além da dificuldade da colheita manual das frutas e questões administrativas. O sistema de associar as culturas foi copiado da natureza pelos índios e, em seguida, transferido aos colonizadores.
Observa-se alguns dos principais benefícios dos sistemas ILPF, tanto nos âmbitos agronômico, zootécnico e silvipastoril, quanto nos lados econômico, social e ambiental. Referente ao solo percebe-se que existe uma maior quantidade de matéria orgânica, maior ciclagem de nutrientes, melhores condições para desenvolvimento de microrganismos, maior infiltração de água, menor perda de umidade e menor risco de erosão.
Assim, entende-se que a lavoura se beneficia da palhada deixada pelo capim e da descompactação do solo feita pelas raízes da forrageira. Ao servirem como barreiras de vento, as árvores reduzem a perda de umidade no solo. Com raízes mais profundas, a forrageira e as árvores aproveitam insumos utilizados na lavoura e que lixiviaram para camadas mais profundas, além do nitrogênio deixado por leguminosas como a soja e feijão. Com maior disponibilidade de nutrientes, o capim produz mais e com melhor qualidade, beneficiando o desempenho animal.
Em sistemas silvipastoris, as árvores trazem conforto térmico para o gado tanto no calor quanto no frio, quando evitam geadas e protegem do vento. A diversificação de culturas muda a dinâmica de pragas e doenças e plantas daninhas, favorecendo o manejo do sistema. Do ponto de vista econômico, a diversificação traz mais segurança para o produtor, mantém o solo em uso durante todo o ano e gera mais empregos no campo.
Levando consideração os benefícios citados, os sistemas ILPF são ambientalmente corretos. Ao possibilitarem maior produção em um mesmo espaço, eles reduzem a pressão pela abertura de novas áreas e pelo desmatamento. Além disso, é um sistema produtivo que ou tem de baixa emissão líquida de gases causadores de efeito estufa, ou que distribui carbono, contribuindo para reduzir o aquecimento global”.
Foto: Arquivo pessoal