Por Claudia Mastrange
Já virou comum dizer que a gente se reconstruiu na pandemia. Mas para a atriz Simone Soares, 44 anos, esses nossos tempos difíceis trouxeram mesmo foram alguns milagres. Ela conseguiu produzir e protagonizar um filme, Até a Noite terminar, em meio à crise sanitária mundial; voltou às novelas, na pele da Leona de Gênesis, da Record TV e agora aguarda ansiosamente pelo exame de DNA que pode lhe devolver o nome de seu pai biológico, um empresário que mora em Fortaleza. O embate jurídico vem desde 2006. “Foram muitos milagres e sou grata por cada um deles. Cheguei a questionar se deveria continuar com a minha arte. Pedi um sinal a Deus e ele me deu presentes”, conta ela nesta entrevista exclusiva à Mais Rio de Janeiro. Confira:
Mais Rio de Janeiro – Porque você considera um milagre estar no elenco de Gênesis?
Simone Soares – Porque eu estava muito triste por não estar trabalhando na minha profissão. Sei que esta difícil para todos, em meio à pandemia, mas era uma dor a mais, um vazio… Então conversei com Deus e falei: “poxa, tenho tantos anos de profissão, tenho a minha voz forte e marcante, que me rende uma ferramenta a mais. Posso fazer locução, produzir… tanta coisa, além de atuar. Mas será que é isso que tenho que fazer mesmo? É meu sonho desde menina, desde que me entendi por gente em Taubaté. Mas é tão difícil sobreviver de arte…. Me dá um sinal, Deus”. E em sete dias, fui convidada para Gênesis. Para mim foi um milagre.
Mais Rio de Janeiro – E era um grande desejo também estar nesse tipo de produção?
SS – Queria muito fazer uma novela bíblica, e quando veio a produção de Gênesis pela Record TV, eu comecei a sonhar ainda mais com isso. Tanto pela temática, quanto por ser essa superprodução da emissora. Então eu torci muito e aconteceu esse milagre, em forma de convite. A Leona seria interpretada pela Mônica Torres, mas ela pegou Covid-19 e, depois, acabou voltando para Portugal, onde está morando. Então fui convidada para fazer a personagem, na fase adulta.
Mais Rio de Janeiro – O como foi a caracterização, o trabalho nessa superprodução bíblica?
SS – Nossa, a caracterização já te coloca né.. Cabelos, lente, figurino primoroso. E você já entra no clima, se transporta para um outro tempo. E sabe que gostei de me ver mais velha?! Nunca fui de muita vaidade, mas a gente amadurece e fica feliz por ver que não é só corpo e cara bonita, que suas potencialidades podem ser exploradas junto com a arte. Abre possibilidades poder fazer mulheres mais velhas. Eu já tenho essa voz grave, que me remete a algo mais sensual… Se deixar você acaba se limitando, ficando estigmatizada.
Mais Rio de Janeiro – E é bom se transformar para cada papel né?
SS – Maravilhoso! Eu me jogo, não tenho o menor pudor. Adoro me doar para a personagem. Posso engordar, emagrecer, pintar os cabelos, raspar a cabeça…. Eu sou movida pela minha arte. É ela que me alimenta. Estou feliz demais e me despi um pouco mais de vaidades, tanto pelo estilo da época da trama e também pela pandemia. Já me acostumei, por exemplo, a não pintar as unhas, eu mesma faço agora. Antes não saí sem aquela unha perfeita, esmaltada, e com muito rímel. Hoje já saio de cara lavada numa boa.
Mais Rio de Janeiro – A pandemia fez as pessoas repensarem a vida, os hábitos…como tem sido para você?
SS – Pois é. Vimos que não precisamos de muito para viver e passamos a valorizar as coisas mais simples. A vida, a família, nossa saúde… A gente tinha medo de botar os pés na rua. Temos vivido tantas tristezas, tantas perdas. Mortes, pessoas passando fome… Então não preciso estar de rímel para ir ali fora. Não é fundamental. Tirei os excessos. Tudo mudou de sentido.
Mais Rio de Janeiro – E em plena pandemia você foi pioneira ao rodar o filme Até a Noite Terminar. Como foi?
SS – Foi incrível! Rodamos em apenas 11 dias. Depois daquele início angustiante da pandemia, em total isolamento, fiquei animadíssima ao ler o roteiro, porque fala de abuso psicológico. E sempre gosto de abordar temas relevantes nos meus trabalhos, como foi em Compulsão, por exemplo. Além disso, seria a oportunidade de fazer uma protagonista. Pensamos em fazer em Petrópolis, mas achei que era a cara de Campos de Jordão, que é próximo de Taubaté, onde eu teria mais facilidade para levantar recursos e parcerias, já que produzi. E assim foi, com grande qualidade e baixo custo. A equipe tinha um total de 25 pessoas. Tudo reduzido, seguindo os protocolos e está lindo! Precisamos valorizar nossa cultura… Monteiro Lobato, Mazaropi e Cely campelo eram de Taubaté. Estamos finalizando e o lançamento deve acontecer em Campos de Jordão e no Rio
Mais Rio de Janeiro – Para todo ficar completo, só o seu sonhado reconhecimento de paternidade né?
SS – Estou esperando o juiz marcar da data para um novo exame de DNA com meu suposto pai biológico. A advogada dele me disse que ele agora quer fazer. Peço a Deus que toque mesmo em seu coração. Até já supereir toda aquela tristeza, que me levou a uma depressão. Mas agora virou uma questão maior, não é mais uma causa só minha, depois de tanta repercussão e da campanha ‘Sou filha da mãe, mas tenho pai’. São mais de 6 milhões de brasileiros que não têm a paternidade reconhecida. È o direito de ter seu nome, sua identidade. Quero meu nome, o que me foi tirado. Se não pagamos as contas, nosso nome fica sujo. Se um pai renega um filho, fica por isso mesmo? Quanto vale um filho? Isso é muito sério. A família é um bem maior. Por ela a gente suporta tudo.
Fotos: Tathy Bione