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Rio de Janeiro / Cotidiano

Cantor já está em casa e casos aumentam no Rio, mas cidade já planeja retomada de grandes eventos

Por Claudia Mastrange

Os casos de covid-19 , que estavam em declínio no Rio, voltaram a apresentar alta no números de contágios e internações nos últimas semanas, especialmente por conta da variante  Delta,  já responsável por 66 % de casos na cidade, segundo dados da SES. O cantor Zeca Pagodinho, vacinado com a segunda dose, foi internado, apresentando sintomas leves e já teve alta. Ao mesmo tempo, a cidade aos poucos vem retomando a programação cultural e de eventos e a prefeitura chegou a anunciar planos de liberar ocupação em 100% nas casas de show, estádios, em outubro, além da realização de uma grande festa no Rèveillon e o Carnaval.

Mesmo se prevenindo com todos os cuidados, Zeca Pagodinho, 62 anos, acabou sendo infectado pela covid-19, e foi internado em 14 de agosto, na casa de Saúde São José, na zona Sul do Rio, para ter melhor acompanhamento médico. Bem humorado, o cantor chegou a cantar para a equipe médica músicas de Lupiscínio Rodrigues e Silvio Caldas. “Não sinto nada”, declarou, segundo nota do jornalista Ancelmo Góes. Depois, postou um vídeo em suas redes sociais incentivando as pessoas a se vacinarem.

“Então gente, obrigado por todos que oraram por mim, torceram por mim. Já estou acabando o tratamento. O importante é se vacinar! Para poder se recuperar mais rápido. Em breve estamos por aí pelo mundo…”, disse Zeca, que teve alta em dia 19 de agosto. “Então, estou indo embora terminar o tratamento em casa. Bacana. Levei dez no pulmão, dez no fígado, dez em tudo. Vacinem-se! Falou? Valeu!”, finalizou, ao deixar o hospital, com seu típico alto astral.

Com o aumento dos casos de covid-19 e a taxa de hospitalização, em 10%, muito por conta da maior transmissibilidade da variante Delta, o município já abriu 60 novos leitos para tratamento da doença.  Segundo o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, a ocupação nas UTIs Covid é de 93%. No último dia 13 de agosto, a ocupação na capital estava em 95%.

No estado, a prefeitura de Teresópolis, na Região Serrana, registrou, em 17 de agosto, 100% de ocupação na rede hospitalar, num total de sete cidades no Rio com  todos os leitos de UTI ocupados . A  Secretaria estadual de Saúde (SES) abriu 20 novos leitos e iniciou processo em curso de chamamento público para a abertura de mais 150 leitos.

Pé no freio  para eventos

Diante desse quadro, a prefeitura do Rio botou o pé no freio em relação à anunciada reabertura e o calendário de eventos Rio de Novo, que previa eventos, já em setembro, liberação para 100% de ocupação de boates e casas de shows, em outubro, e  uso de máscara obrigatório apenas em transporte público e estabelecimento de saúde a partir de novembro.

Longe disso, as medidas sanitárias de proteção à vida foram prorrogadas no mínimo até dia 23 de agosto. O prefeito Eduardo Paes fez novo apelo para que as pessoas cumpram as regras sanitárias e avisou que a cidade só vai avançar no plano de retomada das atividades, se o cenário epidemiológico estiver sob controle. Ele destacou que a pandemia não acabou e as pessoas precisam ter essa consciência.

“Pequeno aumento importante (de casos confirmados de Covid-19) é um grande aumento. A gente vinha tendo redução. Isso é basicamente fruto da variante Delta. Quando a gente anuncia uma programação de reabertura, e eu assumo responsabilidade por isso, a gente não quer dizer que tudo está sob controle. Toda nova medida tem relação com o cenário epidemiológico. Se a gente tem o número de casos aumentando, a tendência é fechar, não abrir”, destacou o prefeito, em coletiva realizada no Centro de Operações Rio (COR).

Paes salientou que seu desejo é o de preparar a cidade para o futuro, mas que existe um percurso por cumprir. O prefeito ainda revelou o seu desejo de antecipar a terceira dose nos idosos e a segunda dose para quem tomou o imunizante fabricado pela Pfizer.

Sepe defende o fechamento das escolas

Profissionais de várias categorias estão atentos  aos números, em relação ao contágio por coronavírus. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Estado do Rio (Sepe) divulgou um relatório sobre os casos de covid-19 na rede municipal. Segundo a pasta, o documento mostra um aumento considerável da contaminação pela doença em várias unidades de ensino do Rio. A partir do relatório, o sindicato reivindica o fechamento imediato das escolas infectadas – ainda mais diante do momento de potencial crescimento da pandemia com a variante Delta.
O levantamento foi enviado para a Secretaria Municipal de Educação (SME), em ofício direto ao secretário Renan Ferreirinha. “O sindicato continuará insistindo para que o município feche todas as escolas até que a campanha de vacinação alcance um grau massivo de imunização da população e o Rio saia da bandeira vermelha com risco alto de contágio, fase em que se encontra atualmente”, diz a pasta.

Rèveillon: festa em 13 pontos da cidade

Com a vacinação no Rio bem avançada, a prefeitura se mostrou otimista para iniciar a retomada gradual de eventos e atividades culturais.  Há algumas semanas, lançou o  Cadernos de Encargos do Réveillon carioca, para empresas interessadas na promoção da festa possam apresentar seus projetos. Um documento é exclusivo para o ano novo em Copacabana, que terá três palcos. O outro detalha a virada em mais dez locais, como: Boulevard Olímpico, Parque Madureira; Praia do Flamengo; Praia da Moreninha, em Paquetá; Praia da Bica, na Ilha do Governador, e Piscinão de Ramos.

Dentro dessa ótica, foi lançado também o Plano de Retomada do Audiovisual Carioca, pacote com uma série de medidas para recuperar e fortalecer o setor na cidade por meio da RioFilme, com investimento previsto de R$ 20 milhões nas áreas de produção, finalização e desenvolvimento de projetos para o cinema, TV, ações locais e games. “A era das trevas acabou. Essa cidade depende muito da cultura, que constrói a história e a identidade do Rio”, afirmou Eduardo Paes, durante o lançamento, dia 17, ao lado do secretário de Governo e Integridade Pública, Marcelo Calero.

A realização do  Carnaval 2022 , é claro, também é alvo de grande expectativa. A prefeitura já assinou contrato com a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) para o uso do Sambódromo. As escolas já definiram seus enredos, estão na fase de escolhas dos sambas e retomando algumas atividades presenciais. Resta avaliar, com o parecer técnico das equipes de Saúde, como o maior evento do Rio  e que atrai turistas do mundo inteiro, pode acontecer de forma segura e em que data.

É aguardar, e fazer a nossa parte, lembrando que a pandemia não acabou..

 

“A variante Delta assusta sim”

Raphael Rangel

(Biomédico Virologista, Mestre e Doutorando em Ciências Biomédicas

A covid-19 insiste em ficar no cotidiano do carioca e, mesmo assim, as autoridades políticas da cidade já se planejam com a retomada de vários segmentos. Com a alta capacidade de lotação nos perguntamos: “Será o momento ideal?”, “Mas e a vacina vai proteger mesmo?”. São perguntas que realmente fazem sentido nesse momento de reabertura.

Na minha visão, estamos hoje em um período de tensão na pandemia. Temos a chegada de uma variante muito transmissível, que não indica ser mais letal, porém, mais transmissível e que pode afetar também as crianças. Algo que não havíamos visto ainda e que assusta sim. Ou seja, alta transmissão, vacinação devagar e danos em crianças.

O retorno das aulas deve ser repensado ou revisto a partir dos protocolos a serem seguidos. Na atual situação, vale mais uma boa máscara e medidas de distanciamentos do que um termômetro para aferir temperatura na entrada.

Uma pessoa infectada com a variante Delta, por exemplo, pode infectar até outras 6 pessoas por conta sua alta carga viral nas vias aéreas. Os sintomas se diferem um pouco do que já conhecíamos. Na variante Delta vemos muita congestão nasal, coriza, incômodo na garganta e dores de cabeça. Sintomas que se assemelham a um resfriado comum e que fazem as pessoas negligenciarem o distanciamento ainda necessário.

Diante desse cenário, todo o plano de retomada total das atividades deve ser muito cuidadoso. O cenário é de observação e não precipitação ou marketing político. Muitos brigam para serem os primeiros nas realizações, mas o foco precisa ser sempre o bem estar e a saúde da população.

Enquanto a variante de espalha, precisamos fazer a nossa parte, utilizar máscaras e de preferência as PFF2, também conhecidas como N95 (nomenclatura americana). É importante priorizar ambientes ventilados e por último, mas não menos importante, a vacinação. Somente com essas combinações conseguiremos barrar essa transmissibilidade comunitária da variante Delta, nos protegermos e estarmos preparados para a tão esperada retomada.

Qualquer plano de retorno total nesse momento é utopia, precisamos observar mais e fazer tudo com consciência e respaldo científico.

Pesquisa ‘ A retomada dos eventos’

A Associação dos Embaixadores de Turismo do RJ promoveu pesquisa “A retomada dos eventos”, feita por meio do Ipetur (Instituto de Pesquisas de Estudos do Turismo) e coordenada por Constança Carvalho, vice-presidente de eventos da associação, sob o apoio da fundação Cesgranrio e do Portal Consultoria em Turismo Bayard Boiteux. No total, 600 pessoas, maiores de 18 anos e residentes no Rio de Janeiro, responderam ao questionário.

Quanto à principal questão a ser discutida na entrevista, “A retomada dos eventos”, 45% das pessoas acham que devem voltar, enquanto 56%, não. Ainda assim, 52% disseram que iriam participar de algum evento e 49% negaram. Se o assunto Réveillon 2022, 44% aprovaram a realização do, porém, 57% não concordam que a festividade aconteça. Quanto ao carnaval, 52% proferiram que sim e 49%, não.

Constança Carvalho menciona que a retomada  é muito importante para o turismo nacional, porque movimenta diretamente mais de 50 setores de serviços. “O resultado desta importante mostra que as opiniões estão bem divididas. Importante à volta, mas com protocolos firmes e respeitados”, conclui.

Cadê o público nos teatros?

João Luiz Azevedo

Produtor Cultural

Se você quer saber a minha impressão sobre a reabertura total dos teatros, com capacidade de 100% de sua lotação disponível, eu vou te contar uma realidade que talvez você não saiba. Primeiramente, precisamos saber como está o público nos teatros, agora com 30% de sua capacidade. Os teatros estão lotados? Estão vazios?

No início de maio deste ano fui convidado para apresentar alguns shows musicais na programação de reabertura do Imperator.  Do dia 30/06 ao dia 18/07, apresentei 12 shows no local. O sucesso foi tanto que fui convidado a apresentar mais 03 shows, em 04 datas, na semana seguinte, totalizando 15 shows em 16 datas.

Desses shows, 03 deles tiveram 100% da capacidade atual (300 lugares) lotado.  Outros 3 shows, tiveram entre 60 e 80% de sua capacidade ocupada, 06 desses shows tiveram em torno da metade de sua capacidade ocupada e, somente 04 shows tiveram menos da metade de ocupação. Esse número, refiro-me a ingressos vendidos, não considero aqui convidados, ok?

Diante desses números, chego à seguinte conclusão: os shows que já faziam sucesso de público antes da pandemia, continuam sendo muito procurados. Porém, aqueles espetáculos que já não faziam sucesso (de público) antes da pandemia, continuam não fazendo e, certamente continuarão não fazendo sucesso, mesmo depois da pandemia. Infelizmente!

Uma outra questão importante: não adianta correr atrás das pessoas que ainda não querem sair de casa para se divertirem em um teatro ou show. À primeira vista parece ser a maioria, mas não é.

Mas João, como estão os outros teatros? Fora um ou outro, a maioria está muito mal. Infelizmente. Imaginem que fui assistir a colegas em cartaz no Teatro PetraGold com 03 pessoas na plateia, sendo todos convidados. Outros fazem temporada, durante todo o mês, colocando 13, 14, às vezes 27 pessoas … Sempre bem abaixo da capacidade máxima do teatro que é 40 pessoas. Triste isso, mas é a realidade.

Digo isso para chegar à conclusão que, independentemente dos teatros reabrirem suas portas, passarem a operar com sua capacidade máxima de 100%, é necessário que a plateia (pagante) volte aos teatros. Sem público (pagante) nos teatros, a roda não gira. A conta não fecha e os produtores não conseguem pagar suas contas.

Não adianta desejar sorte para o ‘coleguinha’ que está estreando, pelas redes sociais, se ele não compra seu ingresso ou não divulga seu espetáculo entre seus tantos outros amigos nas mesmas redes sociais. Nem se preocuparam em saber como o ‘colega’ conseguiu ficar tanto tempo sem pisar no palco, sem ter 1 centavo de bilheteria.

Será que pensam que todos que fazem teatro têm salários nas emissoras de televisão ou vivem de patrocínios e não precisam das bilheterias para sobreviver?

Importante lembrar aqui que não me refiro àqueles produtores que conseguiram alguns trocados através das leis emergenciais como a Aldir Blanc, mesmo sabendo que muitos deles, voltaram à dureza inicial da pandemia, assim que o dinheiro acabou.

Quantas cestas básicas de alimentos eu precisei doar para colegas de classe desempregados?

Aliás, não gosto do termo desempregado. A classe não está desempregada, ela está sem condições de trabalho.

Antes de fazermos campanha para a reabertura dos teatros definitivamente, precisamos fazer Campanha para que as pessoas voltem a ocupar seus lugares na plateia.

Fotos: Divulgação, Reprodução e Prefeitura do Rio/ Marlucci Martins